quinta-feira, 13 de outubro de 2016

NOBEL DE LITERATURA


Para Harold Bloom, um dos maiores críticos literários da atualidade, o mexicano Octavio Paz e o português José Saramago são os dois únicos ganhadores recentes do Prêmio Nobel de Literatura que emprestaram dignidade ao prêmio.  
Neste ano de 2016, o laureado foi Bob Dylan, cantor e compositor célebre por clássicos como Like a Rolling Stone, Just Like a Woman e Blowin' in the Wind. Não tenho dúvida de que todas as homenagens prestadas a Mr. Bob Dylan no campo musical são mais que merecidas; não tenho dúvida de que, se houvesse um Prêmio Nobel de Música, ele estaria numa fila preferencial; não tenho dúvida até de que Mr. Bob Dylan poderia ser laureado sem contestação com um Prêmio Nobel da Paz, pelo teor pacifista de toda sua admirável obra musical... Mas Prêmio Nobel de Literatura? 
É preciso lembrar que esse prêmio foi negado a gênios como Jorge Luis Borges, Ernesto Sabato, Mario Benedetti, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Só para ficar em escritores regionais que há pouco estavam entre nós. Os dois primeiros, argentinos; o segundo, uruguaio e os dois últimos, brasileiros.  
Não há dúvida de que a poesia de Bob Dylan contém literatura, mas uma literatura, digamos, convencional, muito distante, do ponto de vista literário, de algo fora de série como os contos de Borges ou a poesia de Drummond. 
Borges, Sabato, Benedetti, Drummond e João Cabral de Melo Neto não ganharam o Nobel de Literatura mesmo tendo escrito, cada um deles, o que há de melhor na literatura do seu tempo. A premiação de Bob Dylan confirma a tese de Harold Bloom. Octavio Paz e Saramago são apenas duas exceções, num prêmio cuja regra tem sido esquecer os melhores.
Não sei se compor na periferia do mundo traz alguma desvantagem na premiação, mas a impressão que se tem é que, ainda que fossem vivos, Cazuza e Renato Russo dificilmente seriam lembrados pela Academia Sueca... Belchior ainda não foi lembrado, talvez só porque meteu o pé na estrada... Like a Rolling Stone. Mas enquanto há vida, há esperança...

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