sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

PESADELO


Certa madrugada, acordou assustado de um pesadelo e perguntou à mãe quanto tempo faltava para ela completar cinquenta anos. Chovia forte e pela telha transparente do quarto apinhado de rede o relâmpago parecia iluminar todo o universo. O menino não tinha ideia precisa do tempo. Alguém havia dito que depois dos cinquenta anos a pessoa ficava velha e caminhava para o fim da vida. 
Aterrava-lhe a ideia de perder a mãe precocemente. A triste experiência do melhor amigo órfão parecia-lhe insuportável. No pesadelo recorrente aparecia sempre o mesmo túmulo branco de sua mãezinha no cemitério sombrio. Compreendia bem por que o amigo órfão evitava passar perto do cemitério nas rondas do esconde-esconde.
A mãe, com 41 anos e saúde impecável, nunca entendeu aquela pergunta recorrente do menino na madrugada. Considerava algo à toa. Mais uma esquisitice de um menino cheio de mania.
– Vai dormir, menino! Larga de besteira! 

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