Dona Rita estava preparando o almoço e nem notou quando Joãozinho saiu sorrateiro com a porquinha de estimação. O menino caminhou uns cem metros até à barragem e de longe avistou outros meninos saltando das árvores da beira do rio. A porquinha estava especialmente serelepe, parecia querer divertir-se no rio. Joãozinho também queria jogar-se nas águas, ser um menino normal, mas tinha medo, o seu problema não lhe permitia tais aventuras, sobretudo sem a presença de um adulto. Nunca mais havia tido uma crise; depois do remédio novo, só teve um desmaio, já fazia mais de mês. De toda sorte, ainda não se considerava curado. Todo cuidado era pouco. Tomar banho de rio sozinho nem pensar.
Joãozinho seguiu pela beira a euforia da porquinha, sem tirar os olhos do encantador cenário formado pelo rio corrente em pleno outubro. De um lado, o comércio movimentado da Rua de Baixo; de outro, a estrada que levava ao Araquém; havia umas lavadeiras nas pedras ao longe e alguns meninos jogando no campinho da barragem. De onde Joãozinho estava, bastava atravessar poucos metros de água rasa para se alcançar o Poço do Carro, onde os homens costumavam se banhar. Joãozinho não queria atravessar a água, mas sua porquinha saiu nadando e, hesitante, resolveu acompanhá-la com água no meio da perna. Dez passos depois, sentiu-se confiante e, ao invés de concluir o percurso, ficou pelo meio brincando com a porquinha que nadava em sua volta.
A brincadeira, porém, durou pouco. O menino sentiu subitamente uma devastadora angústia, seguida de um forte clarão que logo se desfez em trevas. A porquinha ficou em polvorosa, nadando e grunhindo alto em volta das borbulhas, até não resistir mais e retornar exausta e desolada para a beira d'água.
Duas horas depois encontraram o corpo de Joãozinho, afogado na água rasa.
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