Já faz mais de vinte e um anos. Era terça-feira de Carnaval do distante ano de 1996. O boné azul denunciava uma careca recém-aprovada no vestibular. Era hora de comemorar, sair da caverna dos estudos e ficar com alguém, pela primeira vez. Acabava de fazer 18 anos e estava em Coreaú para o Carnaval. Zé Mauro e Evânio estavam acompanhados das suas namoradas. Fomos à quadra em frente à casa do Zé Baú, onde havia um som. Fiquei segurando vela até os 15 minutos finais da festa. Quando as esperanças pareciam perdidas, eu a vi passar. Uma menina encantadora que me fez brilhar os olhos e o coração dar um pulo. Pensei imediatamente: – É ela! Nunca a tinha visto em Coreaú. Talvez fosse de fora. Tomei coragem e a convidei para dançar. Para minha surpresa, ela aceitou. Saímos pelo salão; eu, em estado de graça. Perguntei alguma coisa sem sentido – a música estava alta, talvez ela nem tenha ouvido – e ela respondeu algo que também não entendi. Depois de dez minutos, que voaram na velocidade de um segundo, vieram chamá-la. As amigas queriam ir embora. Assim, tivemos que nos despedir, contrariados, sem que eu soubesse nada sobre ela. Em seguida, também fui embora. Nada mais me interessava naquela festa. Antes, perguntei à Rita quem era aquela menina. Ela não soube responder. No dia seguinte, voltei para Fortaleza, obviamente, sem parar de pensar nela.
No Sábado de Aleluia, vi quando ela entrou na igreja lotada. Fiquei na porta mais próxima. Não dava para alcançá-la. Era preciso esperar o fim da missa comprida. Muitas velas acesas, um sermão que não tinha fim. Estava ansioso. O que iria dizer para ela? Será que ela viria por esta porta? Por alguns momentos a perdi de vista. Será que ela se recordaria de mim? A missa terminou e me preparei para a abordá-la. Quando ela passou com a amiga diante de mim, dirigi-me sem jeito para saldá-la, perguntei se ela ainda lembrava de mim e ela, com um sorriso reticente, disse um tímido sim e seguiu logo em seguida a amiga que já ia alguns passos adiante. Fiquei inconsolável. Deixei ela escorrer pelos dedos da mão. E agora? No domingo ainda andei à toa pela cidade para ver se a encontrava, mas foi em vão. Na segunda-feira voltei para Fortaleza.
Apesar desse contratempo, não conseguia tirá-la da cabeça. Não era possível. Nas férias de julho, fui novamente a Coreaú tentar encontrá-la. Continuava sem saber nada sobre ela, nem nome, nem endereço, nada... Foram trinta dias de investigação minuciosa. Ninguém sabia nada sobre a menina linda que encontrei na quadra. Nenhuma pista, nenhuma luz naquele labirinto. Parecia loucura. Era a noite do último dias das férias e o primo não veio me chamar para sair. Pensei em ficar em casa, mas às oito horas algo me disse: tente outra vez. Saí sozinho pela rua e, logo que dobrei a esquina, a vi vindo de bicicleta em minha direção. Fiquei na frente e ela parou. Falei: – Passei as férias toda lhe procurando. E ela respondeu, com um sorriso: – Foi?! Fomos caminhando até a praça da rodoviária e, em duas horas de conversa, finalmente soubemos o nome um do outro. Uma pena tê-la encontrado somente no último dia das férias. Fui deixá-la na sua casa. Enfim, descobri onde ela morava. No dia seguinte fui embora com uma cratera de saudade no peito. Ao menos estava próxima a festa da padroeira em setembro.
Passei um mês e meio de saudade. Tentei manter a rotina de estudo, apesar de tudo, apesar de estar perdidamente apaixonado, longe da pessoa amada, contando os dias para reencontrá-la. Cheguei em Coreaú num final de tarde, instantes depois de faltar energia na cidade. A noite veio, mas a energia não. Não podia esperar mais um dia para revê-la. Atravessei a cidade no escuro mesmo. Cheguei no portão. Bati palmas. Uma jovem se aproximou com uma lanterna na mão e perguntei se a Auri estava. Era uma irmã dela que foi chamá-la. Sob a luz de uma vela, sentamos para conversar. Pensei que ela fosse me abraçar, dar um beijo, sei lá... Esperei uma recepção calorosa e me frustrei. Fantasiei demais o reencontro. Ela estava fria, distante, lacônica... Fiquei espantado. Como em um mês mudara tanto? Devia estar gostando de outro. Perguntei se havia algum problema. Ela disse que não, aquele era apenas o jeito dela. Não insisti. Despedi-me e fui embora. Caminhei desolado no escuro da noite coreauense, que não era maior do que o escuro da minha noite interior. Não era ela. O meu coração havia se enganado. Apenas um estava apaixonado. Era preciso esquecê-la. Estava acabado. Acabado o que nem havia começado.
No dia seguinte, sem nenhuma disposição, saí com o primo para dar uma volta na rua. A missa havia terminado e muita gente andava pelas ruas. Inesperadamente, ela apareceu com duas amigas. Ela estava linda, mais linda do que nunca. Passei direto por ela, fingindo que não a havia notado. Depois de uns dez metros, não me contive e dei uma espiada para trás. Ela estava de braços abertos, como quem diz: – Aonde você pensa que vai? Voltei, tentando bancar o difícil, e perguntei: – Você está esperando por quem? E ela respondeu: – Por você, desde o Carnaval. Em seguida, ela dispensou as duas amigas, eu dispensei o primo, e, sozinhos, fui logo perguntando, sem arrodeio: – Você quer ser minha namorada? E ela respondeu: – Quero sim.
Passei um mês e meio de saudade. Tentei manter a rotina de estudo, apesar de tudo, apesar de estar perdidamente apaixonado, longe da pessoa amada, contando os dias para reencontrá-la. Cheguei em Coreaú num final de tarde, instantes depois de faltar energia na cidade. A noite veio, mas a energia não. Não podia esperar mais um dia para revê-la. Atravessei a cidade no escuro mesmo. Cheguei no portão. Bati palmas. Uma jovem se aproximou com uma lanterna na mão e perguntei se a Auri estava. Era uma irmã dela que foi chamá-la. Sob a luz de uma vela, sentamos para conversar. Pensei que ela fosse me abraçar, dar um beijo, sei lá... Esperei uma recepção calorosa e me frustrei. Fantasiei demais o reencontro. Ela estava fria, distante, lacônica... Fiquei espantado. Como em um mês mudara tanto? Devia estar gostando de outro. Perguntei se havia algum problema. Ela disse que não, aquele era apenas o jeito dela. Não insisti. Despedi-me e fui embora. Caminhei desolado no escuro da noite coreauense, que não era maior do que o escuro da minha noite interior. Não era ela. O meu coração havia se enganado. Apenas um estava apaixonado. Era preciso esquecê-la. Estava acabado. Acabado o que nem havia começado.
No dia seguinte, sem nenhuma disposição, saí com o primo para dar uma volta na rua. A missa havia terminado e muita gente andava pelas ruas. Inesperadamente, ela apareceu com duas amigas. Ela estava linda, mais linda do que nunca. Passei direto por ela, fingindo que não a havia notado. Depois de uns dez metros, não me contive e dei uma espiada para trás. Ela estava de braços abertos, como quem diz: – Aonde você pensa que vai? Voltei, tentando bancar o difícil, e perguntei: – Você está esperando por quem? E ela respondeu: – Por você, desde o Carnaval. Em seguida, ela dispensou as duas amigas, eu dispensei o primo, e, sozinhos, fui logo perguntando, sem arrodeio: – Você quer ser minha namorada? E ela respondeu: – Quero sim.
P.S.: Naquele Carnaval, a Auri tinha 16 anos, hoje ela está completando 38. Ela foi minha primeira namorada; eu, o primeiro namorado dela. Namoramos quase 5 anos e estamos casados há mais de 16. Não era loucura. Era amor à primeira vista. A Auri é tudo aquilo que eu imaginava e ainda muito mais. Parabéns, minha namorada! Você é a metade mais doce e mais bela da nossa laranja. O João Pedro e eu te amamos muito!
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