sábado, 28 de janeiro de 2017

TODOS E TODAS


Toda língua carrega consigo uma forte carga ideológica. No alemão, que enfatiza a fertilidade inerente ao gênero feminino, o sol é die Sonne ("a sol"), porque o sol produz luz, gera vida, sendo tratado como feminino, o gênero mais relevante da natureza, ao passo que a lua é der Mond ("o lua"), porque a lua não tem luz própria, não produz luz, não gera vida, logo, é um ser masculino, um ser, digamos, de segunda categoria.    
Nas línguas neolatinas, como o português, ocorre o oposto. A ênfase é sempre dada para o masculino. O sol é masculino; a lua, feminino. O gênero prevalecente é o masculino. Se há um homem entre nove mulheres, deve-se referir ao conjunto como todos e não todas, porque esse único homem prevalece em face das nove mulheres. Essa é a herança linguística que recebemos de tempos imemoriais. Por sorte, a língua é dinâmica e, no processo atual de afirmação feminina, tem sido cada vez mais comum não se falar apenas em todos quando, em meio ao todo, há também mulheres. Nesse caso, tem-se dito, de forma bastante salutar, todos e todas, ou, melhor ainda, todas e todos, como uma forma de afirmar a condição feminina, antes apenas subjacente no masculino todos. 
Há quem critique esse todos e todas, talvez avesso à afirmação feminina, sustentando que esse todos não teria conotação de gênero e, portanto, não encerraria preconceito linguístico; no entanto, todos é, inegavelmente, uma palavra masculina que traz consigo uma opção preferencial pelo masculino, não custando nada, na dinâmica da língua, sobretudo neste momento histórico de tantas afirmações necessárias, enfatizar o gênero feminino, dizendo-se todos e todas, ou, melhor ainda, todas e todos.  
E se for para se fazer uma opção preferencial, que se opte pelo todas (todas as pessoas) e não pelo todos (todos não sei o que, homens, seres humanos ou homens e mulheres)...
Portanto, boa noite a todas! Todas as pessoas que leram este texto!

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