Com a arquibancada lotada, Tibúrcio aquecia para a final do futebol de salão da gincana. Defenderia a equipe amarela. Na sua primeira jogada, pisou na bola e foi ao chão. A torcida, discretamente, ensaiou um coro:
– Uh! Uh! Uh!
– Deve ser a torcida azul querendo me desconcertar. – Pensou consigo.
Aos três minutos de partida, Tibúrcio fez um lançamento na medida e Wilson arrematou para o gol.
Na comemoração, Tibúrcio ouviu da torcida muito claramente alguém gritar:
– Belo lançamento, Banana!
Nada tirava tanto Tibúrcio do sério quanto aquele apelido de Banana. Daí em diante, nosso ala esquerdo passou a observar com atenção um alvo em meio à torcida.
Aos seis minutos teve uma chance clara de gol e, antes mesmo do chute, cobriram-lhe de:
– Uh! Uh! Uh!
Desperdiçou a chance de aumentar o placar. A impressão que teve foi de que o coro não fora entoado apenas pela torcida azul, mas por toda a arquibancada.
Aos dez minutos, Tibúrcio levou um drible desconcertante e a equipe azul chegou ao empate. Da arquibancada alguém protestou:
– Arre égua, Banana! Entre a saia!
Antes de terminar o primeiro tempo, a equipe amarela teve um pênalti a seu favor e Tibúrcio se apresentou para cobrá-lo. Toda a arquibancada explodiu num sonoro:
– Uh! Uh! Uh!
Tibúrcio tomou distância do meio da quadra e disparou um bicudo que fez a bola acertar uma porta do outro lado do quarteirão. Alguém da torcida imediatamente murmurou:
– Oh, Banana ruim do cão!
Desolado, nosso ala pensou em não voltar para o segundo tempo, mas, por insistência do técnico, resolveu continuar.
No começo do segundo tempo, a equipe azul virou a partida e alguém da arquibancada bradou:
– Tira o Banana!
O técnico resolveu não tirá-lo. Até parece que adivinhava o que viria a acontecer. Na metade do segundo tempo, Tibúrcio driblou na sequência três jogadores adversários e enfiou um chutaço no travessão, enquanto a torcida inteira bradava:
– Uh! Uh! Uh!
A partir daí, sempre que Tibúrcio tocava na bola, o coro ensurdecedor da torcida o acompanhava.
– Uh! Uh! Uh!
Tibúrcio continuava a mirar volta e meia um ponto fixo na multidão.
A cinco minutos do fim da partida, a equipe amarela empatou. Tibúrcio salvou uma bola em cima da linha do seu gol, fez um lançamento longo e Joventino arrematou para o gol. Metade da arquibancada explodiu de alegria. E alguém comentou:
– Metade do gol foi do Banana!
A partida já parecia caminhar para os pênaltis, quando Tibúrcio, a um minuto do apito final, desarmou um adversário no meio da quadra e acertou dali mesmo um bicudo forte no ângulo, decretando a vitória da equipe amarela. A torcida inteira, azul e amarela, ergueu-se eufórica na arquibancada, todos num só coro:
– Uh! Uh! Uh!
Em meio ao coro, alguém tentou puxar um aplauso:
– Banana! Banana! Banana!
Tibúrcio vibrou ensandecido com o gol, quase foi às lágrimas de tanta emoção, mas, em meio a toda aquela euforia, ao ouvir alguém começar a puxar um coro com o seu apelido, mudou imediatamente de aspecto, dirigiu-se àquele ponto fixo que observara durante a partida, subiu a arquibancada, puxou pelo braço o seu vizinho de trabalho no Mercado, levou-o até a entrada da quadra, empurrou-o para fora e esbravejou:
– Vai cuidar da tua quintada, beiço de jumento!