quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

CONTO DE NATAL


Enquanto o filme estrangeiro mostrava um Papai Noel gordo aboletado num trenó puxado por renas na neve de Nova Iorque, do lado de fora da sala o sol quente de dezembro revelava a pobreza crônica da rua vazia. Dedé e Pitica, hipnotizados pelo filme, mal pestanejavam. Os olhos dos meninos brilhavam sobretudo quando Papai Noel começava a distribuir os presentes de Natal.  
– O que tu vai ganhar esse ano, Chico? Perguntou Pitica. 
– O que ganho todo ano... Nada! Respondeu-lhe o amigo. 
Pitica todo ano sonhava ganhar uma bicicleta do Papai Noel. Todo ano se frustrava, mas não deixava de acreditar no bom velhinho. Na manhã do dia 25, de olhos ainda fechados, tateava debaixo da sua rede para ver se encontrava algo e, depois, contemplava com os olhos decepcionados o chão vazio. 
Dedé era mais realista. Acreditava que Papai Noel só aparecia para os ricos. Todo ano Hallison ganhava presente do Papai Noel. Logo ele que já tinha tanto brinquedo...  
– O que tu queria ganhar no Natal, Dedé? Perguntou Pitica.
– Um banheiro para minha casa! Respondeu ele.
– Papai Noel só dá brinquedo, bicho besta! 
– Dizem – continuou Pitica – que o Hallison reza toda noite. Talvez por isso ele sempre recebe a visita do Papai Noel. Tereza contou que antes de dormir ele sempre reza um pai-nosso, uma ave-maria e diz assim: Deus é força, Deus é poder. Estou com Ele e hei de vencer! 
– Se for por isso – atalhou Chico –, eu deveria ganhar todo ano cinco presentes do Papai Noel, porque toda noite rezo cinco pai-nossos e cinco ave-marias...
– Mas não diz: Deus é força, Deus é poder... Gracejou Dedé. 
– Não acredito que a fé em Deus seja o motivo da visita do Papai Noel. Se ele fosse enviado por Deus daria presente era para os pobres e não para os ricos. Afirmou convicto Chico. 
– De repente não é uma questão de fé, mas de merecimento. Questionou Pitica. 
– Então nós nunca merecemos! Precisamos acrescentar: Deus é força, Deus é poder.... às nossas orações. Sorriu Dedé. 
– Papai Noel é uma invenção do comércio para vender mais, pessoal. O espírito natalino é outra coisa. É o amor ao próximo. É a fraternidade entre as pessoas. É o nascimento de Cristo, que nasceu e morreu pobre.  Disse Chico com ar professoral.
– Nasceu pobre mas recebeu presente dos reis magos... Interviu mais uma vez o risonho Dedé.
– Mas Cristo é Cristo... e nós somos nós... Não ganhamos presente nem do Papai Noel, imagina dos reis magos... Completou Chico.    
Nesse Natal, cada um dos três amigos amanheceu com dois presentes debaixo de suas redes. Chico recebeu dois carros, um de madeira e outro de lata; Pitica recebeu um patinete e uma bola e Dedé, um cavalinho de pau e um dominó. 
Desde aquele dia, os meninos passaram a concluir suas orações com o Deus é força, Deus é poder... Mas, mais importante do que o acréscimo às suas orações, naquele dia os três meninos começaram a praticar a fraternidade entre si.

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