domingo, 8 de maio de 2016

DESPEDIDA


– Não tenho muito a dizer.
– Acabou e não tem muito a dizer? Não devo ter representado nada pra você!
– Representou, mas não posso condicionar minha vida à sua. Você sabe disso! 
– Sei! Mas precisava ser assim? Tão abruptamente?!
– A oportunidade aparece quando menos se espera. Não se pode deixar o bonde passar. Não se sabe quando passará novamente.  
– Oportunidade?
– Sim.
– Você não está simplesmente voltando a ser livre?
– Não sei de que liberdade você fala. 
– Sabe, sim! A antiga liberdade. A liberdade de ficar com quem quiser.
– Depois de você me considero mais livre, mesmo não ficando mais com um e outro. 
– Não ficou com um e outro, mas me fala em oportunidade... Pensei que não estivesse sendo traído.
– As coisas são mais complexas do que imaginamos, meu amor! 
– Você ficou com outro?
– Fiquei! Mas, de certa forma, esse outro foi você! 
– Eu? Você não disse que estava sem ninguém?
– Falei que não estava namorando. De fato, não havia namoro. Apenas uma amizade colorida de dois anos.  
– Então, fui enganado de qualquer modo. Pensei que era o titular e era o reserva.  
– Não havia namoro. Não gostava dele como gostava de você. 
– Não gostava dele como gostava de mim e acaba de me trocar por ele... 
– As coisas mudaram de repente. Não pensei que iria me apegar tanto a você! 
– Depois que se apegou a mim, resolveu me deixar?
– Depois que me apeguei a você, tornou-se difícil ficar com ele.
– E ao invés de ficar comigo resolveu ficar com ele...
– Ele é livre! Você não! 
– Dizia que não se prendia a convenções, mas é por uma convenção que resolve me deixar. 
– Não é questão de mera convenção. É questão de amor próprio. Você nunca vai ser meu. Você mesmo disse que queria o meu melhor, que sou jovem e bonita, que mereço alguém que possa estar do meu lado o tempo todo.
– Falei. Não imaginava que isso aconteceria tão rapidamente... 
– Quando ele percebeu que eu ia deixá-lo, fez a proposta de casamento.
– Casamento?!
– Preciso decidir minha vida. Você não pode ser meu.    
– E se pudesse?
– Não tenha dúvida de que eu largaria tudo pra viver com você!
– Mesmo ele já tendo falado em casamento?
– Mesmo ele já tendo marcado o casamento! 
– Você está de casamento marcado?! 
– Sim.
– Não chore! 
– As coisas são tão estranhas! Não posso ter você, meu amor! 
– Não nos encontramos no tempo certo.  
– Você me perdoa?   
– Não há o que perdoar, linda! Eu que peço perdão!  
– Você foi muito importante e ficará sempre guardado num cantinho reservado do meu coração. 
– Fico triste por um lado, mas feliz por outro! Tinha medo de perdê-la para a vida que você levava antes. Nesse caso, ao menos perderei para uma causa justa.  
– Depois que nos encontramos, acho que me tornei uma outra pessoa.  
– Ambos nos tornamos. Você foi a coisa mais linda que me aconteceu há muito tempo. 
– O que eu faço pra esquecer você?!
– Não sei. Será mesmo preciso me esquecer?
– Não consigo ficar com você sem me envolver! Concluí que entre nós é tudo ou nada. Como não posso ter tudo, melhor evitar...
– Daí a sua relutância, nos últimos dias, de sair comigo?
– Sim. Ainda estou confusa, ficar com você mais uma única vez poderia comprometer irremediavelmente o plano do casamento.
– Então, vista-se! É melhor irmos embora.

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