sábado, 23 de fevereiro de 2019
Soneto LXVI
O lírio do campo não nos redime;
Não damos a mão a quem nos implora;
Pensamos com fé num verbo sublime,
Distantes, sem ver aquele que chora.
Chegamos bem cedo às raias do crime;
Abrimos a porta a quem nos devora;
Tamanha é a força que nos oprime
Que somos do ontem, não do agora.
Às vezes, me pego meio absorto;
Tratamos o outro com tal soberba;
Seguimos a vida com tanta amarra.
Corremos atrás dum certo conforto;
Sofremos a pena, já bem acerba,
Sem tempo de ouvir a voz da cigarra.
Eliton Meneses
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