"I could be bounded in a nut-shell, and count myself a king of infinite space; were it not that I have bad dreams." (Hamlet. Act 2. Scene 2)
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
DEITADO NA TERRA CRUA
Falar da poética de Eliton Meneses é falar do ecletismo de que ela se serve para abordar temas que vão desde o saudosismo até os mais complexos, como são as abordagens de caráter social. O autor segue "firme na andança" para mostrar o destino do homem "Deitado na terra crua" que, como o José drummoniano, caminha sem saber aonde chegar. O medo do porvir faz o eu poético não querer "ficar sozinho", por isso grita extravasando um sentimento de incertezas do que possa encontrar pelo caminho, uma vez que, nessa estrada paradoxal, sente-se sozinho "no meio da multidão", "olhando com espanto a cidade", avaliando se vale a pena partir. Porque "Não encontra uma só verdade", o mundo é contraditório, perigoso, arriscado para quem "no canto do quarto está sentado sozinho", com medo de "caminhar por linhas tortas" para chegar a este "norte edificante." (Resenha do Lira dos Verdes Anos, pelo poeta Jonas Pessoa. Brasília/DF)
LA PESTE :: CAMUS
"Mais là où les uns voyaient l'abstraction, d'autres voyaient la véritè."
"Maintenant je sais que l'homme est capable de grandes actions. Mais s'il n'est pas capable d'un grand sentiment, il ne m'intéresse pas."
"Agora eu sei que o homem é capaz de grandes feitos, mas, se ele não é capaz de um grande sentimento, ele não me interessa".
"Sans mémoire et sans espoir, ils s'installaient dans le presént. A la vérité, tout leur devenait présent. Il faut bien le dire, la peste avait enlevé à tous le pouvoir de l'amour et même de l'amitié. Car l'amour demande un peu d'avenir, et il n'y avait plus pour nous que des instants."
"Sem memória e sem esperança, eles se estabeleceram no presente. Na verdade, tudo se tornou presente para eles. É preciso dizer que a peste tinha removido todo o poder do amor e até mesmo da amizade. O amor precisa de um pouco de futuro, e nos restava apenas alguns momentos."
"Et c'est pourquoi j'ai décidé de refuser tout ce qui, de près ou de loin, pour de bonnes ou de mauvaises raisons, fait mourir ou justifie qu'on fasse mourir."
"E é por isso que decidi recusar tudo o que, de perto ou de longe, por boas ou más razões, causa a morte ou a tente justificar".
"Mais qu'est-ce que ça veut dire, la peste? C'est la vie, et voilà tout."
"Mas o que quer dizer a peste? A peste é a vida, e isso é tudo."
"Le vieux avait raison, les hommes étaient toujours les mêmes."
"O velho estava certo, os homens são sempre iguais."
(La Peste. Albert Camus)
domingo, 25 de fevereiro de 2018
BARQUINHO DE PAPEL
Era um fevereiro chuvoso. Chovia a tarde inteira. O barquinho de papel foi lançado na corrente do meio-fio naquela tarde escura. Depois de hesitar próximo ao refluxo da biqueira, o barco seguiu confiante rua abaixo, tentando desviar os pingos da chuva. Atravessou o cruzamento onde se formava um poço, observou do lado tia Oneida debulhando um rosário; Dona Antônia pela janela repetindo o sinal da cruz para que a chuva parasse; Teresa dando conselho para Auricélio parar de beber. O barco encostou no meio-fio seguinte, do lado oposto ao oitão de Consuelo, que tomava um café com solda contemplando a cerca brejada do quintal. Logo em seguida, passou por Dona Benícia, que cantava Bandeira Branca enquanto preparava a caipirinha no balde para a festa da noite. Em frente à casa de Dona Helena, a corrente atravessava a rua e encostava no meio-fio oposto. Dona Helena tomava um comprimido para a pressão e nem se deu conta da passagem do barquinho. A casa estreita de Seu Romualdo estava aberta, ele havia chegado há poucos dias de Fortaleza para passar o inverno na Palma. Na esquina de Dona Neida, o barco entrou pela rua do Peão, cruzou a via e encostou no meio-fio de Dona Terta, que tecia compenetrada um landuá no alpendre. Depois avistou Seu Vicente Portela dando o último retoque em mais uma lamparina, Zé Abílio comentando sobre a cheia do rio, Seu Chico da Águia colando o solado de um sapato, até alcançar o monturo e fazer a curva rumo ao rio. Alguns metros adiante, o barco encontrou o rio cheio, que, para um pequeno barco, parecia um enorme mar. Entrou num remanso e sumiu ao longe na imensidão do rio Coreaú.
Esse barquinho de papel seguiu as águas de uma chuva faz trinta anos. Trinta anos depois, a rua, o meio-fio, o rio e o menino que fez o barco permanecem os mesmos, mas todas as outras personagens da crônica foram arrastadas pela correnteza do tempo. Trinta anos às vezes parece pouco, mas foi nesse breve intervalo que tanta gente querida deixou de habitar a nossa rua. Tia Oneida, Dona Antônia, Teresa, Auricélio, Consuelo, Dona Benícia, Dona Helena, Seu Romualdo, Dona Neida, Dona Terta, Vicente Portela, Zé Abílio, Chico da Águia... Todos se foram e a rua nunca mais será a mesma sem eles. Mas trinta anos depois, há um novo fevereiro chuvoso e há um novo barquinho de papel, feito pelo mesmo menino, que segue as águas da chuva rumo ao mesmo rio d'outrora cujas águas se renovam na intermitência do tempo.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
O FIO DE ARIADNE
O fio que a mão de Ariadne deixou na mão de Teseu (na outra estava a espada) para que este se aventurasse no labirinto e descobrisse o centro, o homem com cabeça de touro ou, como pretende Dante, o touro com cabeça de homem, e o matasse e pudesse, já executada a proeza, decifrar as redes de pedra e voltar para ela, para o seu amor.
(...)
Borges. O fio da fábula. Cnossos, 1984.
domingo, 18 de fevereiro de 2018
DOMINGO À TARDE
Ao meio-dia, a feira começava a se esvaziar. Todos voltavam para casa. A
gente do interior ia de caminhonete, de bicicleta, de cavalo, a pé. Iam
para perto e para longe. Cunhassu, Feitoria, Angicos, Volta... Quem era
da rua e tinha casa no interior arrumava suas coisas e ia passar a
tarde por lá. Quem não tinha, se trancava em casa. A cidade ficava
deserta. O vento varria o que restava da feira. Uma sacola de plástico
voava na solidão do domingo na Palma. Depois do fervilhar da
manhã, a tarde se abatia implacável. Ninguém ficava na rua. A não ser
um ou outro cachorro que dormia na calçada. O toque da Coluna da Hora
dava o tom da solidão. Uma imensa letargia se abatia sobre a cidade. A
rua estreita, a serra ao longe, a nuvem parada no céu. Um lugar sem vida
sob o sol das três da tarde. Quando muito, um sussurro incompreensível
saía de alguma casa fechada. Um galo ainda tentava cortar a monotonia
com um canto modorrento e triste. Não adiantava. Quando o tempo para,
até os pardais silenciam...
domingo, 11 de fevereiro de 2018
sábado, 10 de fevereiro de 2018
40 ANOS
Teve um tempo em que eu achava meio estúpida essa ideia de comemorar aniversário, uma vez que não me parecia sensato comemorar um marco de aproximação do fim; no entanto, ultimamente tenho visto o aniversário não mais como a aproximação do fim, mas como uma prova de que estamos vivos, de que estamos resistindo e de que, portanto, ainda não ficamos pelas curvas do tempo, algo, enfim, realmente digno de comemoração.
TEMPO
Arte Poética
Fitar o rio feito de tempo e água
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.
Sentir que a vigília é outro sonho
que sonha não sonhar e que a morte
que teme nossa carne é essa morte
de cada noite, que se chama sonho.
No dia ou no ano perceber um símbolo
dos dias de um homem e ainda de seus anos,
transformar o ultraje desses anos
em música, em rumor e em símbolo,
na morte ver o sonho, ver no ocaso
um triste ouro, tal é a poesia,
que é imortal e pobre. A poesia
retorna como a aurora e o ocaso.
Às vezes pelas tardes certo rosto
contempla-nos do fundo de um espelho;
a arte deve ser como esse espelho
que nos revela nosso próprio rosto.
Contam que Ulisses, farto de prodígios,
chorou de amor ao divisar sua Ítaca
verde e humilde. A arte é essa Ítaca
de verde eternidade, sem prodígios.
Também é como o rio interminável
que passa e fica e é cristal de um mesmo
Heráclito inconstante, que é o mesmo
e é outro, como o rio interminável.
Jorge Luis Borges
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018
DIREITOS X PRIVILÉGIOS
Vivemos um tempo em que a casta de cima luta por seus privilégios e a classe trabalhadora fica em casa (parada) ante a perda dos seus direitos míninos...
P.S.: No Brasil, juízes ganham 15 vezes mais do que a média salarial dos demais trabalhadores; na Europa, essa relação é de 4 para 1...
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