Aos leitores deste humilde diário, àqueles que o acessam de perto ou de longe, aos que nos enviam e-mails, àqueles que permanecem silentes, espalhados por tantos lugares mundo afora, aos colaboradores e a todos que compartilham conosco alguns momentos da vida e da arte, nossos votos de um ano de 2018 de muita saúde, paz, felicidade, solidariedade, sabedoria e amor!
domingo, 31 de dezembro de 2017
FELIZ ANO NOVO!
Aos leitores deste humilde diário, àqueles que o acessam de perto ou de longe, aos que nos enviam e-mails, àqueles que permanecem silentes, espalhados por tantos lugares mundo afora, aos colaboradores e a todos que compartilham conosco alguns momentos da vida e da arte, nossos votos de um ano de 2018 de muita saúde, paz, felicidade, solidariedade, sabedoria e amor!
FRASE DO ANO
"Na finitude da vida nada sabemos, temos pouco controle dos fatos, de modo que paira sempre a incerteza dentro de uma certeza aparente. É esse duvidoso que nos move, que nos faz ver como possível, ainda que impossível." (...)
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
DOIS DEDOS DE PROSA
– Acho um insulto a preocupação com o mercado e com a meritocracia, sobretudo num momento em que a indigência prolifera nas ruas e nas praças.
– Você é contra a meritocracia?
– A meritocracia é um ponto de partida, não um ponto de chegada. No seu aspecto da concursocracia, especialmente no setor público, é inegável que representa um avanço em relação ao compadrismo que grassava anteriormente, mas, ainda assim, pelas suas características atuais, é bastante excludente e elitista. Não precisamos bani-la, mas aperfeiçoar os seus critérios, de maneira que se torne includente e materialmente democrática.
– Como se conseguiria isso?
– A reserva de vagas para pobres, negros e trans é um ponto de partida.
– Você não acha que se o mercado se recuperar a pobreza diminui?
– E você não acha que se a pobreza diminuir o mercado se recupera? Quem vem primeiro? Quem é responsável pela diminuição da pobreza? O mercado ou o
Estado? Ainda que você acredite na mão invisível do mercado – que julgo uma quimera –, quem efetivamente é responsável pela redução das desigualdades sociais é o Estado. No pacto social que forma um Estado Democrático – ou não somos um Estado Democrático de Direito? –, quando se atribui ao Estado a prerrogativa de intervir na economia, poderia o mercado se insurgir contra essa intervenção, por outra via que não as urnas? Não seria antidemocrática a pretensão de se implantar um Estado mínimo (liberal) sob a égide de uma Constituição que é social?
– O Estado brasileiro, por mais que sofra alguma redução de tamanho, como acontece atualmente, continua sendo muito intervencionista...
– E precisa sê-lo... Um país com desigualdades históricas gritantes como o nosso não pode ficar de braços cruzados, à espera da mão invisível do mercado... Aliás, onde essa mão invisível, sem a intervenção do Estado, promoveu justiça social?
– Há muitas experiências exitosas, Reagan, Thatcher, Helmut Khol...
– Você fala de Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, países em que o neoliberalismo se implantou num contexto socialmente mais favorável e ainda assim com resultado final bastante pífio. É preciso não esquecer que o liberalismo clássico culminou na quebra da bolsa de Nova Iorque e na crise de 1929. Depois disso, a política mundial orientou-se pelo keynesianismo, no embalo do qual veio o New Deal, que socorreu uma Europa em ruínas... O New Deal seria a mão invisível do mercado...?
– Veja Cuba, a Coreia do Norte, a Venezuela... Esses países decadentes não estariam precisando do mercado livre?
– Antes de abolirem, nas suas palavras, o mercado livre, esses países eram melhores do que são hoje? Cuba tem um dos melhores índices de saúde e de educação do mundo. Antes da Revolução era extremamente pobre e desigual. A Coreia do Norte vive sob uma tirania. A tirania é sempre ruim, seja de direita, seja de esquerda, ruim para a economia, mas sobretudo ruim para as pessoas. O ocaso em que vive a Coreia do Norte não é uma questão meramente econômica ou ideológica, é uma questão humanitária. Quanto à Venezuela, o que efetivamente ainda existe, para além do ensaio de um socialismo bolivariano, é um Estado social, num modelo não muito distante do que foi implantado no Chile, por exemplo, e que deu certo.
– E por que a Venezuela está um caos?
– Seria interessante analisar a fundo todo o processo de implantação do bolivarianismo e sobretudo a reação que a elite venezuelana faz a ele...
– Então a elite é a responsável pelo caos humanitário da Venezuela...?
– Decerto é um dos responsáveis...
– Você é a favor da supressão da liberdade nesses países?
– De que liberdade você fala? A liberdade civil e política ou a liberdade econômica? Do ponto de vista civil e político, ainda não se invetou nada melhor do que a democracia. A democracia pressupõe liberdade civil e política, não liberdade econômica. O ideal seria a liberdade em todos os aspectos, mas, na prática, a mão invisível do mercado jamais enfrentou a injustiça social sem a intervenção do Estado. O socialista tem um sério problema com a questão da liberdade civil e política, mas ainda pode nos perguntar: – Qual o outro caminho?
– Não haveria outro caminho?
– Cada caso é um caso. Os países nórdicos seguiram um modelo social que funcionou. Será que Cuba conseguiria os mesmos avanços adotando igual modelo? O Chile teve muitos avanços com um modelo semelhante, mas conseguiria esse feito sem suas reservas de cobre? A supressão da liberdade civil e política é um desastre, mas é igualmente desastrosa a injustiça social. A dialética do mundo nos leva a tomar posição dentro desse jogo de forças que precisa tender ao equilíbrio. Às vezes, quando as condições são muito desfavoráveis, é preciso tencionar mais; não sei precisamente até que ponto. Esse ponto são as circunstâncias históricas que acabam determinando.
– O Estado brasileiro, por mais que sofra alguma redução de tamanho, como acontece atualmente, continua sendo muito intervencionista...
– E precisa sê-lo... Um país com desigualdades históricas gritantes como o nosso não pode ficar de braços cruzados, à espera da mão invisível do mercado... Aliás, onde essa mão invisível, sem a intervenção do Estado, promoveu justiça social?
– Há muitas experiências exitosas, Reagan, Thatcher, Helmut Khol...
– Você fala de Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, países em que o neoliberalismo se implantou num contexto socialmente mais favorável e ainda assim com resultado final bastante pífio. É preciso não esquecer que o liberalismo clássico culminou na quebra da bolsa de Nova Iorque e na crise de 1929. Depois disso, a política mundial orientou-se pelo keynesianismo, no embalo do qual veio o New Deal, que socorreu uma Europa em ruínas... O New Deal seria a mão invisível do mercado...?
– Veja Cuba, a Coreia do Norte, a Venezuela... Esses países decadentes não estariam precisando do mercado livre?
– Antes de abolirem, nas suas palavras, o mercado livre, esses países eram melhores do que são hoje? Cuba tem um dos melhores índices de saúde e de educação do mundo. Antes da Revolução era extremamente pobre e desigual. A Coreia do Norte vive sob uma tirania. A tirania é sempre ruim, seja de direita, seja de esquerda, ruim para a economia, mas sobretudo ruim para as pessoas. O ocaso em que vive a Coreia do Norte não é uma questão meramente econômica ou ideológica, é uma questão humanitária. Quanto à Venezuela, o que efetivamente ainda existe, para além do ensaio de um socialismo bolivariano, é um Estado social, num modelo não muito distante do que foi implantado no Chile, por exemplo, e que deu certo.
– E por que a Venezuela está um caos?
– Seria interessante analisar a fundo todo o processo de implantação do bolivarianismo e sobretudo a reação que a elite venezuelana faz a ele...
– Então a elite é a responsável pelo caos humanitário da Venezuela...?
– Decerto é um dos responsáveis...
– Você é a favor da supressão da liberdade nesses países?
– De que liberdade você fala? A liberdade civil e política ou a liberdade econômica? Do ponto de vista civil e político, ainda não se invetou nada melhor do que a democracia. A democracia pressupõe liberdade civil e política, não liberdade econômica. O ideal seria a liberdade em todos os aspectos, mas, na prática, a mão invisível do mercado jamais enfrentou a injustiça social sem a intervenção do Estado. O socialista tem um sério problema com a questão da liberdade civil e política, mas ainda pode nos perguntar: – Qual o outro caminho?
– Não haveria outro caminho?
– Cada caso é um caso. Os países nórdicos seguiram um modelo social que funcionou. Será que Cuba conseguiria os mesmos avanços adotando igual modelo? O Chile teve muitos avanços com um modelo semelhante, mas conseguiria esse feito sem suas reservas de cobre? A supressão da liberdade civil e política é um desastre, mas é igualmente desastrosa a injustiça social. A dialética do mundo nos leva a tomar posição dentro desse jogo de forças que precisa tender ao equilíbrio. Às vezes, quando as condições são muito desfavoráveis, é preciso tencionar mais; não sei precisamente até que ponto. Esse ponto são as circunstâncias históricas que acabam determinando.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
LA NAUSÉE
C'est pour cela que nous nous sommes séparés: nous n'avions plus assez de force pour supporter ce fardeau.
Croyez-moi, je vous parle d'expérience, tout ce que je sais, je le tiens de la vie.
(...) mon Dieu comme les choses existent fort aujourd'hui.
(...) l'existence est une imperfection.
La vie a un sens si l'on veut bien lui en donner un. Il faut d'abord agir, se jeter dans une entreprise.
(...) je ne crois pas en Dieu; son existence est démentie par la Science. Mais, dans le camp de concentration, j'ai appris à croire dans les hommes.
«Pour supporter votre condition, la condition humaine, vous avez besoin, comme tout le monde, de beaucoup de courage. Monsieur, l'instant qui vient peut être celui de votre mort, vous le savez et vous pouvez sourire: voyons! n'est-ce pas admirable? Dans la plus insignifiante de vos actions, ajoute-t-il avec aigreur, il y a une immensité d'héroïsme.»
(...) à l'ordinaire l'existence se cache. Elle est là, autour de nous, en nous, elle est nous, on ne peut pas dire deux mots sans parler d'elle et, finalement, on ne la touche pas.
L'essentiel c'est la contingence. Je veux dire que, par définition, l'existence n'est pas la nécessité. Exister, c'est être là, simplement; les existants apparaissent, se laissent rencontrer, mais on ne peut jamais les déduire.
Tout ce qui reste de réel, en moi, c'est de l'existence qui se sent exister.
(Jean-Paul Sarte)
domingo, 17 de dezembro de 2017
KARL MARX
"O que constitui o movimento dialético é a coexistência dos dois lados contraditórios, sua luta e sua fusão em uma nova categoria. Na realidade, basta pôr-se o problema de eliminar o lado mau para que se liquide de um só golpe o movimento dialético." (Karl Marx)
"(...) é o lado mau que produz o movimento que faz a história, determinando a luta." (Karl Marx)
domingo, 10 de dezembro de 2017
TEMPO
Despertou não sabia em que dia da semana, muito menos em que mês e em que ano. Sentado no piso de um quarto escuro, não sabia tampouco se era noite ou se era dia. Não havia porta, janela, nem qualquer objeto no quarto. Estava preso num cubículo escuro e vazio. Havia apenas um orifício na parece, com uma luz que não penetrava o seu interior. Tentou levantar-se, estava sem forças. Teria morrido? Perdido a memória? Não sabia quem era, de onde vinha, quantos anos tinha... Sabia pouca coisa. Sabia que era um homem e que havia um mundo com pessoas que interagiam e se apegavam umas às outras e que por isso sofriam e também eram felizes. Rastejou até o orifício. Havia pouca coisa lá fora. Apenas um relógio, um quadro e um livro aberto, suspensos num imenso deserto. O relógio marcava duas horas em ponto. Devia ser do dia... O homem pintado no quadro tinha um olhar vazio, uma boca que parecia falar e a mão que apontava para algum lugar. Talvez para o livro volumoso do lado, que a distância não permitia ler.
Tapou com o dedo o orifício e mergulhou na total escuridão. Quando despertou de novo, viu pelo orifício que o relógio marcava as mesmas duas horas. Não era possível. Parecia ter dormido uma eternidade. O homem pintado no quadro parecia chorar, sua boca já não falava mais e a mão já não acenava para lugar algum. O livro agora estava fechado. A capa trazia um símbolo, uma estrada e uma planta. Inesperadamente, uma tempestade de areia aproximou-se e encobriu o relógio, o quadro e o livro. Encobriu até mesmo o quarto escuro.
Despertou mais uma vez e viu pelo orifício o relógio empoeirado que continuava a marcar duas horas, o livro que estava novamente aberto e o homem do quadro que parecia sorrir. Sentiu algo estranho dentro de si. Uma vontade de sair do cubículo escuro e observar de perto aquele quadro, de ler aquele livro e, sobretudo, de investigar o funcionamento daquele relógio.
As paredes pareciam de concreto. Não conseguia ver o teto. Seu único caminho para o mundo exterior era aquele orifício minúsculo. Como sairia? Perguntou a si mesmo. Perguntou para o homem do quadro, que, depois de um silêncio, pareceu dizer-lhe alguma coisa. Logo em seguida, apareceu uma mulher caminhando no deserto, uma mulher que ouviu alguma coisa do homem do quadro e se dirigiu ao quarto escuro. À medida que ela se aproximava do orifício, diminuía cada vez mais de tamanho, até ficar menor do que o próprio orifício e passar através dele para dentro do quarto. Tendo voltado ao seu tamanho original, a mulher tocou a mão do homem do quarto e o convidou a sair.
Quando deu por si, sentado na areia, ele não mais encontrou sua guia. Ergueu-se ainda perplexo, aproximou-se do relógio e descobriu que ele não funcionava por falta de pilha, que o livro volumoso era o livro da vida e que o homem do quadro, na verdade, era ele mesmo.
Tapou com o dedo o orifício e mergulhou na total escuridão. Quando despertou de novo, viu pelo orifício que o relógio marcava as mesmas duas horas. Não era possível. Parecia ter dormido uma eternidade. O homem pintado no quadro parecia chorar, sua boca já não falava mais e a mão já não acenava para lugar algum. O livro agora estava fechado. A capa trazia um símbolo, uma estrada e uma planta. Inesperadamente, uma tempestade de areia aproximou-se e encobriu o relógio, o quadro e o livro. Encobriu até mesmo o quarto escuro.
Despertou mais uma vez e viu pelo orifício o relógio empoeirado que continuava a marcar duas horas, o livro que estava novamente aberto e o homem do quadro que parecia sorrir. Sentiu algo estranho dentro de si. Uma vontade de sair do cubículo escuro e observar de perto aquele quadro, de ler aquele livro e, sobretudo, de investigar o funcionamento daquele relógio.
As paredes pareciam de concreto. Não conseguia ver o teto. Seu único caminho para o mundo exterior era aquele orifício minúsculo. Como sairia? Perguntou a si mesmo. Perguntou para o homem do quadro, que, depois de um silêncio, pareceu dizer-lhe alguma coisa. Logo em seguida, apareceu uma mulher caminhando no deserto, uma mulher que ouviu alguma coisa do homem do quadro e se dirigiu ao quarto escuro. À medida que ela se aproximava do orifício, diminuía cada vez mais de tamanho, até ficar menor do que o próprio orifício e passar através dele para dentro do quarto. Tendo voltado ao seu tamanho original, a mulher tocou a mão do homem do quarto e o convidou a sair.
Quando deu por si, sentado na areia, ele não mais encontrou sua guia. Ergueu-se ainda perplexo, aproximou-se do relógio e descobriu que ele não funcionava por falta de pilha, que o livro volumoso era o livro da vida e que o homem do quadro, na verdade, era ele mesmo.
sábado, 9 de dezembro de 2017
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
DOSTO...
"O pior é que a beleza é tão misteriosa quão terrível. É uma luta entre Deus e o demônio e o campo de batalha é o coração do homem." (Fiódor Dostoiévski)
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