Quando se podia avistar, da calçada de casa, a água do rio na barragem, era sinal de que o inverno era dos bons. Na Semana Santa, o clima era diferente, acinzentado e úmido, com nuvens cobrindo o céu. Era como se uma aura mística cobrisse a Palma. Desde a quarta-feira, os magotes de adultos e crianças vagavam pelas ruas pedindo esmolas.
– Uma esmola pelo amor de Deus?!
– Perdoe!
Naquele tempo eram muitos os pedintes já em dias normais. Na Semana Santa, proliferavam, mormente na sexta-feira. Uma vez tomei coragem e acompanhei Dedé. Depois de dois nãos e um pão miúdo na padaria do Rabo da Gata, desisti, envergonhado. Dedé seguiu em frente com o saco enorme ainda vazio.
Na sexta-feira, ao fim da tarde, chegava do serrote o pessoal do pau do Judas. Em rodas dançavam o maneiro-pau.
– Leruá! Leruá! Vicente Chico! Leruá! É o campeão...!
O pau do Judas era sempre recebido por um sereno passageiro e muita gente curiosa.
À noite, quem possuía criação devia redobrar a vigilância. Era costume furtar cabra, galinha e porco entre a sexta e o sábado. Todo ano sumiam pelo menos três cabras do vovô Raimundo. Em volta do pau do Judas, uma só fogueira não dava conta de tanta esmola...
Na manhã do sábado de aleluia era a vez de derrubar o Judas, com pedra, pau e baladeira, e correr para ver se no bolso do boneco tinham mesmo colocado os trinta cruzeiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário