sexta-feira, 30 de maio de 2014

CAÇA E PESCA



Zé Mago e Taboca foram pescar. Na bicicleta surrada seguiram rumo ao açude do Cunhassu. Atravessaram o rio na canoa de seu Valto, pararam um instante no regato cheio, cruzaram o açude do Meio, o campo do Raimundo Abílio, o Pereirão frondoso... Quase ao anoitecer, chegaram na porteira de seu Tarcísio.
Bateram palmas, mas ninguém respondeu.
– Ó de casa?!
O único som que ouviram foi o das galinhas e dos perus no quintal.
Seu Tarcísio, a mulher e os oito meninos tinham ido à rua para a missa da Semana Santa.
Com a casa de apoio fechada, os pescadores não poderiam pernoitar no Cunhassu. Dormir ao relento era coisa para pescador antigo. O jeito era bater água até a lua clarear e ir embora logo em seguida.
Armaram as redes, percorreram o açude em câmaras de ar, batendo na água com varas de pau para acuar os peixes, esperaram meia hora...
Apesar da disposição dos pescadores, a pouca experiência de ambos, o vento forte e o claro da lua tornaram a pescaria um trabalho vão. Depois de três tentativas, não conseguiram nada para além de uma curimatã e um piau miúdo.
Refizeram desapontados seus petrechos e, já prontos para regressarem à rua, acorreu a Zé Mago a ideia de não voltar para casa com um único piau de uma empreitada tão árdua.
Sem que Taboca percebesse, Zé pulou a cerca do quintal de seu Tarcísio e, com pouco, reapareceu com duas galinhas nas mãos.
Acocorou-se na beira d'água, quebrou-lhes os pescoços e as despenou ali mesmo, para espanto de Taboca.
Acomodadas as aves no garajau, os amigos partiram confiantes rumo à Palma, depois de combinarem que cada um ficaria com uma galinha e um peixe.
A viagem de regresso seguia tranquila até que os pescadores esbarraram na estrada com seu Tarcísio, que vinha com a família de volta da missa.
– Oba, meu amigo Taboca! De onde vocês vêm? Perguntou seu Tarcísio.
Antes de Taboca responder, Zé Mago atalhou às pressas:
– A gente estava caçando pra cá do Araquém, seu Tarcísio.
– Ah, e essas galinhas no cesto?!
– Não, seu Tarcísio, são duas nambus!
– Nambu?! Desse tamanho?! Nunca tinha visto!
– É que são nambu zabelê, seu Tarcísio!
Zé Mago sabia que nambu zabelê era ave de mata muito distante, mas a despista improvisada pareceu convencer seu Tarcísio, que se despediu animado e seguiu confiante sua caminhada, para alívio dos pescadores.

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