quarta-feira, 13 de maio de 2020

Totem e tabu : Freud


"O tabu é uma expressão e um produto da crença dos povos primitivos em forças demoníacas."

"Em quase todo lugar em que o totem é vigente, também existe a lei de que membros do mesmo totem não podem manter relações sexuais entre si, ou seja, de que também não podem se casar uns com os outros. Trata-se da exogamia vinculada ao totem."

"Criou-se uma situação não resolvida, uma fixação psíquica, e todo o resto se deriva do conflito permanente entre proibição e impulso."

"O fundamento do tabu é um ato proibido para o qual existe uma forte inclinação no inconsciente."

"Se os outros não punissem a violação, necessariamente se dariam conta de que querem fazer o mesmo que o transgressor."

"Em muitos povos selvagens, o rigor das restrições do tabu para os reis-sacerdotes teve uma consequência que é historicamente significativa e especialmente interessante para nossos pontos de vista. A dignidade do rei-sacerdote deixou de ser algo desejável; quem estivesse na iminência de assumi-la, muitas vezes empregava todos os meios para se esquivar dela."

"O tabu cresceu no solo de uma disposição emocional ambivalente."

"A consciência moral é a percepção interior do repúdio a determinadas moções de desejo existentes em nós."

"O tabu é um mandamento da consciência moral, e sua violação faz surgir um terrível sentimento de culpa, que é tão evidente quanto é desconhecida a sua origem."

"Onde existir uma proibição deve haver um desejo por trás."

"A lei apenas proíbe aos seres humanos aquilo que poderiam fazer sob a pressão de seus impulsos. A lei não precisa proibir e punir o que a própria natureza proíbe e pune."

"A regra de que todo participante da refeição sacrificial tem de comer da carne do animal sacrificado tem o mesmo sentido que a prescrição de que a execução de um membro culpado da tribo deve ser efetuada por toda a tribo."

"A psicanálise nos revelou que o animal totêmico é realmente o substituto do pai, e se harmonizava com isso a contradição de que normalmente é proibido matá-lo e que sua morte se transforme em festividade – que o animal seja morto e, no entanto, pranteado. A atitude emocional ambivalente que ainda hoje caracteriza o complexo paterno em nossas crianças, e que muitas vezes prossegue na vida dos adultos, também se estenderia ao animal totêmico, substituto do pai."

"Podemos dar uma resposta se recorremos à celebração da refeição totêmica: certo dia, os irmãos expulsos se reuniram, mataram o pai e o devoraram, e assim deram um fim à horda paterna. Unidos, eles ousaram e realizaram o que teria sido impossível ao indivíduo. (Talvez um progresso cultural, como a utilização de uma nova arma, tenha lhes dado a sensação de superioridade.) O fato de também devorarem o assassinado é algo óbvio para os selvagens canibais. O violento pai primordial era certamente o modelo invejado e temido de cada membro do grupo de irmãos. Agora, no ato de devorá-lo, eles realizam a identificação com ele; cada um se apropria de uma parte de sua força. A refeição totêmica, talvez a primeira festa da humanidade, seria a repetição e a comemoração desse ato memorável e criminoso com o qual tantas coisas tiveram o seu início, tais como as organizações sociais, as restrições morais e a religião."

"Para cada pessoa o deus é moldado de acordo com o pai, que sua relação pessoal com deus depende de sua relação com o pai carnal, oscila e se transforma com esta, e que deus, no fundo, não é outra coisa senão um pai elevado."

"Havia outro caminho para o apaziguamento dessa consciência de culpa, e este veio a ser trilhado apenas por Cristo. Ele morreu e sacrificou sua própria vida, e assim libertou o grupo de irmãos do pecado original."

(Totem e tabu, Sigmund Freud)

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