sábado, 30 de novembro de 2019
Ego
um primata que vagueia,
passos firmes na areia.
volta e meia azafamado,
quase nunca desalmado.
além da mediocridade,
aquém da barbaridade.
uma eterna construção,
entre a mente e o coração.
às vezes, um pouco hostil,
mas, em regra, mui gentil...
Eliton Meneses
Amor: direito, moral e fé
O direito opera a partir dos fatos da vida. Mudam-se os fatos, mudam-se as normas. "Tudo flui como um rio." (Heráclito)
***
O amor é uma força natural ativa; a moral, uma força reativa humana. Logo, o amor, no sentido mais pleno, rompe todas as barreiras morais.
***
A fé cristã não admite mudança: "eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe." (Mateus 19:6) O Deus cristão impõe a opção pela estabilidade da vida; é um Deus conservador que, entre o laço precedente e o amor superveniente, considera o amor uma tentação do demônio.
Além do bem e do mal : Nietzsche
"Não se prender a qualquer pessoa: mesmo que seja a mais querida — toda pessoa é uma prisão e um refúgio."
"(...) aquilo que é comum tem sempre pouco valor. No final, as coisas devem ser como são e como sempre foram — as grandes coisas continuam sendo para os grandes, os abismos para as profundezas, as delícias e entusiasmos para os refinados e, resumindo, as raridades para os raros."
"Não é a intensidade, mas a duração dos sentimentos superiores que forja os homens superiores."
"Não existem fenômenos morais, o que existe é a interpretação moral dos fenômenos..."
"Aquele que luta com monstros deve ter cuidado para não se tornar um monstro. E se você olhar durante muito tempo para um abismo, o abismo vai também olhar para dentro de você."
"O que se faz por amor acontece sempre além do bem e do mal."
"O amor traz à luz as qualidades ocultas e superiores de um amante — o que é raro e excepcional nele: nesse ponto, ele engana facilmente a sua regra."
"Amamos acima de tudo nossos desejos, e não a coisa desejada."
"Seus profetas fundiram em uma só as palavras 'rico', 'ímpio', 'perverso', 'violento', 'sensual', e pela primeira vez deram um cunho vergonhoso à palavra 'mundo'. Nessa inversão de valores (à qual pertence a palavra 'pobre' como sinônimo de 'santo' e 'amigo') jaz a importância do povo judeu: com ele começa a rebelião dos escravos na moral."
"Os verdadeiros filósofos são ordenadores e legisladores; dizem: 'é assim que deve ser!', determinam o para onde? e o para quê? do homem, e, ao fazer isso, colocam o trabalho prévio dos operários filosóficos e dos que dominaram o passado a seu dispor — agarram-se ao futuro com mãos criadoras, e o que quer que seja e tenha sido passa a ser para eles um meio, um instrumento, um martelo. O seu 'conhecer' é criar, sua criação é legislar, o seu querer à verdade é vontade de potência."
"No homem a criatura e o criador estão unidos: em um homem não há apenas matéria, fragmento, abundância, barro, lodo, absurdo, caos; há também o criador, o escultor, a dureza do martelo, a divindade do espectador e o sétimo dia: — vocês entendem esse contraste?"
"O homem nobre também ajuda os desafortunados, mas nunca — ou quase nunca — por piedade, e sim por um impulso gerado pela superabundância de poder."
"Só existem obrigações para com aqueles que nos são iguais."
(Friedrich Nietzsche. in Além do bem e do mal)
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
Aforismos
Ciclo da vida
Nascer, crescer, ser feliz e morrer.
Tempo
A sucessão de instantes eternos.
Espaço
A tábua de salvação do abismo.
O homem livre
Um fim em si mesmo.
O escravo
Um instrumento alheio.
sábado, 23 de novembro de 2019
Soneto LXXXVII
Os mortos já se vão acumulando:
Camélia, Hortênsia, Rosa e Margarida...
O Cravo também fez sua partida;
O Lírio se foi triste, definhando.
Um mundo que se vai desintegrando;
Há pouco era um jardim todo florido;
Gardênia conheceu seu par garrido;
Crisântemo sem ela foi murchando...
Tulipa, Orquídea, Íris, Violeta
Bateram asas como borboleta,
Deixando apenas Nardo sob o sol.
As flores novas são outro jardim;
Não cheiram mais igual ao meu Jasmim,
Nem têm as cores do meu Girassol.
Eliton Meneses
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
Soneto LXXXVI
Sou feito de sonhos e de desejos,
Saberes e crenças, suposições;
A obra que faço vem de lampejos,
Coragens e medos, contradições.
Os falsos profetas, os vi sobejos;
Soberbos no mar de superstições;
Astutos, loquazes, alguns bocejos;
Inútil agarrar-se em definições.
A luz do real lhes parece hostil,
Preferem habitar funesto covil,
Escravos do mundo das ilusões.
Espanta a origem de tais valores,
Talvez ressentidos por suas dores,
Cultuam a glória dos seus grilhões.
Eliton Meneses
sábado, 9 de novembro de 2019
Soneto LXXXV
De que importam tantas provações,
Esquivas, escusas e fundamentos?
De que importam autojuramentos,
Se somos guiados por emoções...?
Jamais desvanecem as ilusões,
Hauridas no leito dos sentimentos,
Conquanto nutridas só de momentos,
Do afeto que une dois corações.
Difícil amor que não se desgasta,
Imune às agruras da foz distante,
Sujeito à angústia da longa espera.
Às vezes, a vida se faz nefasta,
Mas há a certeza de um instante
Eterno e fugaz como a primavera.
Eliton Meneses
segunda-feira, 4 de novembro de 2019
Soneto LXXXIV
Para Oneon
Longas horas travamos de conversa;
As memórias completas de uma vida,
Me contaste até antes da partida,
Mesmo quanto à ressalva controversa.
Descobri uma história bem diversa
Da comum que costuma ser vivida;
De prazeres e amores bem servida,
No mais fundo do humano submersa.
Menestrel da antiga boemia;
Pescador de invejável valentia,
Mui longeva carreira de hedonismo.
Longas horas travamos de conversa;
As memórias completas de uma vida,
Me contaste até antes da partida,
Mesmo quanto à ressalva controversa.
Descobri uma história bem diversa
Da comum que costuma ser vivida;
De prazeres e amores bem servida,
No mais fundo do humano submersa.
Menestrel da antiga boemia;
Pescador de invejável valentia,
Mui longeva carreira de hedonismo.
Todo um quadro bastante pitoresco,
Dionísio envolto de burlesco,
Que dançava na beira do abismo.
Eliton Meneses
Assinar:
Postagens (Atom)