Sempre que finalizo um romance, um conto, uma crônica interessante... gosto de tecer algumas considerações ou mesmo fazer uma breve resenha crítica sobre a obra, até como uma forma de assimilar melhor o enredo do livro ou mesmo na tentativa de fazer um estudo crítico, bem como, quiçá, incentivar outros a também se interessarem pela leitura!
Pais & Fihos é uma obra do realismo russo, da segunda metade do Século XIX (1862), de autoria de Ivan Turguêniev, escritor que popularizou o termo niilismo, corrente filosófica que apresenta uma visão cética e radical dos valores religiosos, políticos e sociais, que, inclusive, influenciou a filosofia de Nietzsche e alguns romances de Fiódor Dostoievsky, meu escritor favorito!
Como sugere o próprio título do romance, Pais & Filhos trata do conflito de gerações impulsionado pelas mudanças políticas e sociais que estavam acontecendo na Rússia oitocentista da época. Fazendo uma rápida digressão histórica do momento: ocorria o fim do regime de servidão na Rússia, estando o camponês (servo) sob a tutela do proprietário de terras. A organização política e social da época ainda era feudal, diferente das organizações políticas ocidentais.
A história começa com dois jovens, o médico niilista Bazárov e seu escudeiro e grande amigo Arkádi, chegando à casa de Nikolai Pietróvitch, pai de Árkádi, no interior da Rússia, nos arredores da cidadezinha conhecida como Marina. Bázarov se considera um niilista, aquele que não crê em nada, que se recusa a seguir regras e autoridades e é avesso às manifestações sentimentais. Arkádi, embora mantenha certa fidelidade à ideologia do amigo, se mostra mais sentimental e corresponde melhor às manifestações afetivas do pai. Nicokolai Pietróvitch, assim como seu irmão, tio de Arkádi, Pável Pietróvitch, constituem parte da elite aristocrata ultrapassada da época. Suas atitudes antiquadas entrarão em choque com a ideologia de Bázarov, fato que contribuirá para o completo desentendimentos entre eles e para nutrir o sentimento de ódio de Pável pelo amigo do sobrinho e hóspede de Nikolai. Assim, haverá sempre em toda a narrativa esse conflito geracional entre o velho e o novo. Os amigos visitam os pais de Bazárov em uma outra cidade do interior da Rússia. Vassíli Ivánovitch e Arina Vassílievna são aqueles pais amáveis que fazem de tudo para agradar o filho; porém, Bazárov não se permite manifestações de afetos paternais. Nessas visitas, os dois conhecem a viúva Ana Serguêievna e sua irmã caçula Kátia e, a partir daí, um sentimento mais puro do amor faz com que os dois, por um momento, se deixem levar, embora Bazárov não se renda por completo aos seus sentimentos interiores por Ana e acabe no fim da narrativa tendo um final trágico, fruto talvez das suas próprias convicções. Por outro lado, Arkádi se entrega ao amor e terá uma vida próspera com Kátia!
Assim é que um livro de apenas 200 páginas sintetiza de forma tão pungente a realidade das relações familiares, a discrepância de duas gerações distintas e, após sua publicação, contribuiu para a mobilização social e o arrebatamento niilista que influenciaria muuitas gerações posteriores, perpassando grandes obras de renomados escritores russos como Os irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoievsky.
Enfim, fica a dica de leitura introspectiva!
Auricélia Souza Fontenele
Professora de Literatura
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