sexta-feira, 19 de agosto de 2016

SANTANA


Santana não aceitava ser chamado só de doutor. Exigia o tratamento adequado. Era pós-doutor. Pós-doutor Santana do Amaral. Não fizera três anos de pós-doutorado numa universidade distante para ser destratado pela gente inculta. Foram muitas noites em claro para ser tratado como qualquer um. Quando o chamavam apenas pelo nome, fingia-se de mouco. Mas se o tratavam por doutor, emendava prontamente: 
– Pós-doutor. Pós-doutor Santana do Amaral.  
De nada adiantava dizerem-lhe que o título acadêmico não importava em tratamento diferenciado na vida cotidiana. 
– Cada macaco no seu galho! Faça pós-doutorado e depois conversamos...    
O pós-doutor Santana era professor de física desempregado. Tanto se dedicara à pós-graduação que se esqueceu de arrumar um emprego. O último que apareceu era longe demais e pagava uma miséria. Sua tese sobre o deslocamento dos anéis de Urano não despertara a atenção de universidade alguma. Para não ficar completamente ocioso, resolveu dar aula de reforço para alunos do ensino médio.
Considerava um insulto os adolescentes tratarem-no apenas pelo nome, quando muito por professor Santana. Tentou inicialmente corrigi-los, mas foi debalde. Um deles foi logo dizendo:
– Deixa de besteira Santana! Doutor é quem tem dinheiro!

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