Chicão morava na 1651 e, sempre que o Orelhão tocava, vinha, paciente e simpático, nos chamar na 1665, arremedando o espanhol do peruano Juan:
– Teléfono!
– Teléfono!
Chicão era um estudante exemplar, fazia pedagogia e francês, embora não deixasse de se divertir nos finais de semana. Ao primeiro Quem é de Benfica, fui com o Chicão; a primeira vez que fui com uma turma para um forró, fui na caravana do Chicão; a primeira vez que fui ao Dragão do Mar, fui com o Chicão e duas amigas dele. Depois Chicão terminou o curso, fez um mestrado, passou para professor de uma universidade no interior da Paraíba e não apareceu mais. Há mais de quinze anos não dá notícia.
Há poucos dias, Manoel Madeira, cearense radicado em Maceió, entrou em contato comigo interessado em adquirir o Veredas Sinuosas, dizendo gostar das minhas poesias e sua esposa dos meus contos (sic). Ele estaria de passagem pela Meruoca – onde havia morado um tempo – e daria um pulo em Coreaú para apanhar o livro e conferir a produção de mel de Jandaíra do João Alberto.
Graça (a esposa) não tinha vindo na viagem, mas me enviou um livro, de autoria dela, intitulado A Pedagogia Feminina das Casas de Caridade do Padre Ibiapina. Em Coreaú Manoel não encontrou o livro. Como não tinha tempo de ir ao Araquém, combinamos um encontro em Fortaleza. Três dias depois, fui à Rodoviária encontrá-lo. Conversamos um pouco, passei-lhe o Veredas, ele me passou A Pedagogia Feminina..., ninguém cobrou nada um ao outro... Ele disse que tanto ele quanto a esposa eram de Forquilha e eu lhe disse que tinha um amigo de lá, que dificilmente eles conheceriam, chamado Francisco Loiola, o Chicão.
Ele me encarou com uma fleuma que lhe parecia peculiar e disse que o Francisco era simplesmente irmão da Graça. Fiquei surpreso, fiz outras perguntas para ver se se tratava da mesma pessoa, mas, de fato, era do Chicão que estávamos tratando, inclusive a Graça, observei na capa do livro, era Graça de Loiola.
Fui embora do inusitado encontro com informações do amigo Chicão, um livro sobre um tema que muito me interessa e a certeza de que, nas voltas que o mundo dá, até as pedras se encontram.
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