"Os macacos haviam ocupado uma cidade, abandonada, libertando-se da inferioridade da floresta. 'Entretanto, não sabiam para que haviam sido destinados aqueles edifícios, nem como se servirem deles. Sentavam-se, às vezes, todos, em círculo, no vestíbulo que dava para a Câmara do Conselho Real; coçavam-se e catavam pulgas do pelo – e tinham a pretensão de ser homens... Como os macacos de Kipling, imitamos: eles – os homens; nós: os super-homens. Isto é, os que julgamos superiores a nós, os criadores, os requintados, os progressistas, os que estão, lá do outro lado do mundo, fazendo civilização. Cada vez que um desses fazedores de civilização se mexe para fazer uma revolução ou para fazer a barba, nós, cá do outro lado, ficamos mais assanhados do que a macacaria dos junglais. De uns copiamos a forma de governo e os modos de vestir, os princípios da política e os padrões das casimiras – os figurinos, os alfaiates e as instituições. De outros copiamos outras cousas: as filosofias, mais em voga, as modas literárias, as escolas de arte, os requintes e mesmo as suas taras de civilizados. De nós é que não copiamos nada. E temos assim com a bicharia do apólogo kiplinguiano esses pontos comuns: a inconsciência, a volubilidade e... o ridículo'." (Apud Raymundo Faoro. Os Donos do Poder. Vol. 2. 7.ª edição. Ed. Globo. p. 672)
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