quinta-feira, 30 de abril de 2015

PENA DE MORTE


"Se me opusessem o exemplo de que quase todos os séculos e de que quase todas as nações, que puniram alguns delitos com pena de morte, responderia que esse exemplo se anula em face da verdade, contra a qual não há prescrição; que a história dos homens nos dá a ideia de um imenso arquipélago de erros, entre os quais sobrenadam, poucas e confusas, e a grandes intervalos de distância, algumas verdades." (Cesare Beccaria)

"Toda a história do progresso humano foi uma série de transições através das quais costumes e instituições, umas após outras, foram deixando de ser consideradas necessárias à existência social e passaram para a categoria de injustiças universalmente condenadas." (Stuart Mill)

O QUE É A VIDA?



A vida é um sopro divino.
A vida é uma breve ilusão.
A vida é o maior desatino.
A vida é uma atroz ficção. 
A vida é chama que apaga.
A vida é uma triste partida.
A vida é o sonho que vaga.
A vida é uma causa perdida.
A vida é uma longa jornada.
A vida é um palco renhido.
A vida é um ponto no nada.
A vida é mistério incontido.
A vida é uma luz matutina.
A vida é a mágica invenção.
A vida é amor que aglutina.
A vida é inefável canção.

Eliton Meneses

segunda-feira, 27 de abril de 2015

ABORTO


O aborto, na legislação brasileira, é autorizado se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto necessário) e se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido do consentimento da gestante ou do seu representante legal (aborto no caso de gravidez resultante de estupro) (art. 128, incisos I e II, do Código Penal). 
Tirante os casos do aborto necessário e do aborto na gravidez resultante de estupro, considero o aborto uma conduta de tal modo reprovável que não pode ficar imune a uma sanção, inclusive na esfera criminal.
Os adeptos da legalização irrestrita do aborto apresentam interessantes razões de política sanitária para justificar a sua tese; todavia, há razões superiores, especialmente éticas, a acenar para a reprovação de um ato tão bárbaro contra um ser humano indefeso.
Nesse ponto, às vezes me questiono, será que a reprovação que faço ao aborto não seria um paradoxo na minha assumida tendência ideológica de esquerda? Isso porque a reprovação do aborto faz parte da pauta política da direita, sendo a esquerda, geralmente, favorável à legalização do ato. A resposta que sempre encontrava era que não havia contradição em ser de esquerda e ser contrário ao aborto, mas em ser de esquerda e defendê-lo. Algo nesse sentido (a confortar-me) encontrei recentemente na leitura de Norberto Bobbio:
"Fizeram-me observar que esta posição parece contrastar uma das definições mais comuns da esquerda, segundo a qual ser de esquerda significa estar do lado dos mais fracos. Na relação entre a mãe e o nascituro, quem é o mais fraco? Não seria o segundo?

sexta-feira, 24 de abril de 2015

ALMAS MORTAS - GOGOL



                                                                "(...) mas os seres humanos são superficiais e pouco perspicazes, e um homem de roupa diferente lhes parece um outro homem."


O autor dessas linhas é Nicolai Gógol, na sua obra Almas Mortas (1842). Mesmo passados tantos anos desde a publicação do livro, é notável e impressiona muito a atualidade do tema. Toda a obra versa sobre a mediocridade do ser humano frente ao desejo de poder. O protagonista é Pável Ivánovitch Tchítchicov, um homem ambicioso e sagaz na busca de dinheiro, respeito e vantagens, que traça um plano ilícito e estranho: comprar os servos mortos, mas cujo óbito ainda não fora registrado pelos proprietários, para conseguir com isso a transferência de terras pelo governo Russo e assim adquirir bens e ganhar fama e respeito perante a sociedade.
Tchítchicov é muito inteligente, consegue identificar os pontos fracos das pessoas, moldar-se ao caráter delas até conseguir o que deseja, embora no final da narrativa seus planos passem pelas consequências advindas de atos ilícitos.
Na realidade Gógol quis, através do livro, retratar a situação da Rússia nos anos oitocentistas, quando o povo vivia em regime de servidão e os bens do proprietário eram avaliados pela quantidade de servos ou "almas" que possuíam. Tchítchicov foi escolhido, como bem frisa o autor, para representar o oportunismo, a superficialidade e a corrupção do homem russo frente às cobiças materiais: "Se eu o escolhi foi para evidenciar não os méritos do povo russo mas sim os seus defeitos e vícios".
Não foram poucas, na época, as críticas desfavoráveis a Almas Mortas... O livro foi censurado e o autor, movido por constantes depressões, acabou por queimar boa parte dos seus manuscritos. Assim, ao lermos Almas Mortas, perceberemos lacunas, sobretudo no final da segunda parte.
Enfim, a atualidade dessa grande obra está em retratar, com riqueza de detalhes, a corrupção nos órgãos públicos, a mediocridade do ser humano frente ao desejo de poder, a ganância, fofocas e mentiras. Enfim, o que existe de pior na natureza humana encontra-se aí retratada, também com certos traços de humor, o que faz com que a leitura seja leve e prazerosa.
Algumas lacunas na segunda parte tornam o livro inacabado, deixando margem para a imaginação dos leitores. Qual destino teve Tchítchicov? Para que queria mesmo comprar as almas mortas? Fica, portanto, a cargo de cada um buscar a resposta.

Auricelia Fontenele

quarta-feira, 22 de abril de 2015

ALTOS E BAIXOS


EM ALTA

Os dezenove anos do Projeto Confraria de Leitura, coordenado pelo Prof. João Teles, exemplo de militância educacional voltada para a promoção da leitura para crianças carentes de Fortaleza.

EM BAIXA

O ataque sistemático do Governo Dilma à Defensoria Pública. Desta vez, com o ajuizamento de uma ação no STF visando suprimir a autonomia da Defensoria Pública da União e a do Distrito Federal, reconhecida pela Emenda Constitucional n.º 74/2013. Governo que não compreende a missão constitucional da Defensoria Pública não merece ser chamado de social.

EM ALTA 

O inverno de 2015, que, se não está tão bom quanto precisávamos, não está tão ruim quanto a Funceme previa. E salve a sabedoria popular dos profetas da chuva, cujas previsão alentaram a esperança de um inverno ao menos regular. 

EM BAIXA 

Em Coreaú, derrubam uma praça pública (talvez a mais bem conservada da cidade) para construir uma outra no mesmo lugar e praticamente nos mesmos moldes daquela destruída. Enquanto isso, o matadouro público segue em ruínas há meia década... 

segunda-feira, 20 de abril de 2015

A ERA DOS DIREITOS - NORBERTO BOBBIO



"A liberdade e a igualdade dos homens não são um dado de fato, mas um ideal a perseguir; não são uma existência, mas um valor; não são um ser, mas um dever ser."

"Se tivessem dito a Locke, campeão dos direitos de liberdade, que todos os cidadãos deveriam participar do poder político e, pior ainda, obter um trabalho remunerado, ele teria respondido que isso não passava de loucura. E, não obstante, Locke tinha examinado a fundo a natureza humana; mas a natureza humana que ele examinava era a do burguês ou do comerciante do século XVIII, e não lera nela, porque não podia lê-lo daquele ângulo, as exigências e demandas de quem tinha uma outra natureza ou, mais precisamente, não tinha nenhuma natureza humana (já que a natureza humana se identificava como a dos pertencentes a uma classe determinada)".

"O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político."

"Uma das definições possíveis de democracia é a que põe em particular evidência a substituição das técnicas da força pelas técnicas da persuasão como meio de resolver conflitos."

"O ethos dos direitos do homem resplandece nas declarações solenes que permanecem quase sempre, e quase em toda parte, letra morta. O desejo de potência dominou e continua a dominar o curso da história. A única razão para a esperança é que a história conhece os tempos longos e os tempos breves. A história dos direitos do homem, é melhor não se iludir, é a dos tempos longos. Afinal, sempre aconteceu que, enquanto os profetas das desventuras anunciam a desgraça que está prestes a acontecer e convidam à vigilância, os profetas dos tempos felizes olham para longe."

segunda-feira, 13 de abril de 2015

EDUARDO GALEANO: PRESENTE!



"De nuestros miedos
nacen nuestros corajes
y en nuestras dudas
viven nuestras certezas.
Los sueños anuncian
otra realidad posible
y los delirios otra razón.
En los extravios
nos esperan hallazgos,
porque es preciso perderse
para volver a encontrarse."

Eduardo Galeano (1940-2015)