sexta-feira, 24 de abril de 2015

ALMAS MORTAS - GOGOL



                                                                "(...) mas os seres humanos são superficiais e pouco perspicazes, e um homem de roupa diferente lhes parece um outro homem."


O autor dessas linhas é Nicolai Gógol, na sua obra Almas Mortas (1842). Mesmo passados tantos anos desde a publicação do livro, é notável e impressiona muito a atualidade do tema. Toda a obra versa sobre a mediocridade do ser humano frente ao desejo de poder. O protagonista é Pável Ivánovitch Tchítchicov, um homem ambicioso e sagaz na busca de dinheiro, respeito e vantagens, que traça um plano ilícito e estranho: comprar os servos mortos, mas cujo óbito ainda não fora registrado pelos proprietários, para conseguir com isso a transferência de terras pelo governo Russo e assim adquirir bens e ganhar fama e respeito perante a sociedade.
Tchítchicov é muito inteligente, consegue identificar os pontos fracos das pessoas, moldar-se ao caráter delas até conseguir o que deseja, embora no final da narrativa seus planos passem pelas consequências advindas de atos ilícitos.
Na realidade Gógol quis, através do livro, retratar a situação da Rússia nos anos oitocentistas, quando o povo vivia em regime de servidão e os bens do proprietário eram avaliados pela quantidade de servos ou "almas" que possuíam. Tchítchicov foi escolhido, como bem frisa o autor, para representar o oportunismo, a superficialidade e a corrupção do homem russo frente às cobiças materiais: "Se eu o escolhi foi para evidenciar não os méritos do povo russo mas sim os seus defeitos e vícios".
Não foram poucas, na época, as críticas desfavoráveis a Almas Mortas... O livro foi censurado e o autor, movido por constantes depressões, acabou por queimar boa parte dos seus manuscritos. Assim, ao lermos Almas Mortas, perceberemos lacunas, sobretudo no final da segunda parte.
Enfim, a atualidade dessa grande obra está em retratar, com riqueza de detalhes, a corrupção nos órgãos públicos, a mediocridade do ser humano frente ao desejo de poder, a ganância, fofocas e mentiras. Enfim, o que existe de pior na natureza humana encontra-se aí retratada, também com certos traços de humor, o que faz com que a leitura seja leve e prazerosa.
Algumas lacunas na segunda parte tornam o livro inacabado, deixando margem para a imaginação dos leitores. Qual destino teve Tchítchicov? Para que queria mesmo comprar as almas mortas? Fica, portanto, a cargo de cada um buscar a resposta.

Auricelia Fontenele

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