domingo, 11 de janeiro de 2015

LIÇÃO Nº 1


O mês de fevereiro de 1984 estava sendo chuvoso no Coreaú. Depois do almoço o primo Evânio passou para irmos juntos à Escola Flora Teles. Era meu primeiro dia numa escola. Eu tinha seis anos e o primo, cinco. Fomos num único guarda-chuva debaixo de um temporal. A escola não distava mais do que umas cinco quadras da minha casa, mas ainda no meio do caminho a considerei bastante distante e pensei em voltar atrás.
Na sala do Pré-escolar, sentei na mesa coletiva com alguns conhecidos: Dedé, Neném, Baía e Evânio. A aula fluiu normalmente, até que Baía nos deu conta do incidente: 
– Neném cagou! Neném cagou!
Neném era o menor da turma – devia ter uns quatro anos – e de fato estava acocado, arriando o barro discretamente em plena sala de aula... Como resultado, o que se viu não foi um clássico tolete, mas uma poça enorme de merda espraiada ao redor da pobre criança.
Antes que Evânio avisasse a professora do ocorrido, algumas meninas da mesa vizinha, desconfiadas pelo terrível odor que já empestava a sala, descobriram a enorme poça e começaram a gritar:
– Socorro! Socorro! Corre! Corre! Corre!
Imediatamente, a turma toda entrou em pânico. Todos, a um só tempo, tentaram sair pela porta estreita, num empurra-empurra, desespero e mais gritaria. Sem compreender a confusão, o pobre Neném, acocorado e assustado, caiu num choro copioso.
Ato contínuo, um grupo de zeladoras chegou na sala e se pôs a lavar, com água e sabão, não apenas o chão, mas também as paredes, mesas e cadeiras da sala de aula. Neném ainda estava acocorado e em prantos, com as zeladoras em sua volta e todo o restante da turma no salão da escola, quando a professora enfim resolveu se dirigir a ele, com invulgar sutileza:
– Vá, Neném, embora! Você está doente, meu filho! 

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