segunda-feira, 18 de agosto de 2014

MEA-CULPA


Ela entrou compenetrada na sala. Os olhos tremiam lacrimosos. Na mão segurava a certidão de óbito do filho. Não pensava em vingança. Não se importava com a justiça dos homens. Desejava somente voltar no tempo para abraçar mais uma vez o seu filho. O seu filho de vida tão adoidada, viciado em droga, autor de alguns delitos, mas seu filho, tão jovem, tão bonito, tão amado... Quanta saudade!  
Seu filho morto aos vinte anos. Três tiros à queima-roupa. O tráfico não perdoa delator. Ela não se perdoa por não ter atendido ao último pedido do filho. O dinheiro, a droga do dinheiro, ainda continua na gaveta do quarto. Não serve mais para nada. Nada trará o filho de volta. Devia ter tido a coragem. O arrependimento dói tanto quanto a perda do filho. Toda noite sonha com seus olhos suplicantes pedindo os trezentos reais. Seu filho precisava do dinheiro. Ele precisava realmente comprar uma arma para se defender... 

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