sábado, 30 de junho de 2018

FRASE DO MÊS


"(...) et nous errions, nourris du vin des cavernes et du biscuit de la route, moi pressé de trouver le lieu et la formule. (Arthur Rimbaud)

COPA DO MUNDO


Nasci quatro meses antes da Copa do Mundo de 78. Não tenho qualquer recordação da Copa de 82. Na Copa de 86, lembro vagamente de alguns jogos, dos gols do Josimar e sobretudo do último jogo do Brasil contra a França. Estava tão seguro que, durante a partida, fui com uma turma ver o circo que havia chegado há poucos dias no Alto, quando a partida já estava 1x0 para o Brasil. Na volta, a França de Michel Platini havia empatado e vi meu pai chorar depois das disputas nos pênaltis. Em 90, lembro de cada jogo da Copa, sobretudo do último contra a Argentina. Depois do lance do Maradona e do gol de Canigglia, saí pelas ruas da Palma meio perplexo, parando vez por outra nas casas pra ver se o Brasil já havia empatado. O empate não veio. A tristeza foi enorme. Os Bréus diziam que o Brasil só tinha sido campeão quando a bola era quadrada. Depois da derrota precoce em 90, a sensação era de que não seríamos nunca mais campeões. Pedão, depois da Copa de 86, passou quatro anos usando a camisa da Argentina... Em 1994, já em Fortaleza, não aguentei ver a disputa de pênaltis na final. Somente quando vi a comemoração na cobrança do pênalti do Baggio, voltei da rua pra também comemorar. Em 98, assisti à derrota na final na casa da irmã. Só ela e eu. Ela muito grata por eu consolá-la da derrota inusitada por 3x0 para a França. O Brasil foi à final, já era alguma coisa. A França era dona da casa e nunca havia conquistado uma Copa. Em 2002, consegui assistir à final contra a Alemanha, mas em pé e caminhando de um lado pra outro, naquela inesquecível manhã de domingo. Depois da vitória, fomos à praia com o Gilmar. Em 2006, vi em casa a França novamente ser o algoz do Brasil com o gol de Tierry Henry. Em seguida fomos passear na Praça da Gentilândia. Ah, o Brasil já era penta, não se ganha sempre... Em 2010, foi a vez da Holanda ser nosso algoz. Morava em Roraima, mas passava férias em Fortaleza. Assisti ao primeiro tempo no estacionamento do Condomínio Marly. 1x0 pro Brasil, jogando muito. Depois veio o segundo tempo, as coisas desandaram e a Holanda virou com Sneijder. Foi bem frustrante. Depois de três finais seguidas em 94, 98 e 2002, estávamos mal acostumados. Cair pelo caminho nas duas Copas seguintes demonstrava que o Brasil já não tinha a hegemonia do futebol. Em 2014, tudo andou bem até o jogo contra a Alemanha. A Copa era em casa e mesmo sabendo que o Brasil não era a melhor equipe, o fator casa e o peso da camisa poderiam ajudar, sobretudo numa semifinal e numa final. Nada disso importou para a Alemanha, que friamente, aproveitando-se, claro, da ausência de Neymar e de Thiago Silva, além do descontrole emocional da Seleção, aplicou-nos o histórico 7x1. A derrota para a Holanda por 3x0 na disputa do terceiro lugar acabou sendo um detalhe. Agora em 2018, sem Alemanha e Argentina, já eliminadas, e sem a Itália, que nem chegou a se classificar para a Copa, o Brasil teria chance, se não viesse jogando um futebol tão precário e se não tivesse ainda pela frente, por exemplo, seleções como a Espanha e a França... Ih, de novo a França... De qualquer modo, como ninguém mais pode ser penta nesta Copa e o Brasil ainda pode até ser hexa, estamos aqui para torcer... Vamos, Brasil!

ALTOS E BAIXOS : ESPECIAL COPA DO MUNDO


EM ALTA

O Uruguai, que tem um time inteiro muito bom, começando pelo goleiro Muslera e terminando com Soaréz e Cavani, que, além de craques, jogam cada partida da Copa do Mundo como se fosse a última de suas vidas.  

EM BAIXA 

As atuais campeã e vice, Alemanha e Argentina. A Alemanha, por um certo salto alto, acabou eliminada na primeira fase. A Argentina tinha Messi, Di María e Mascherano, mas, para além desses, era um time bem ordinário, sobretudo na defesa, e foi eliminado, com justiça, nas oitivas.

EM ALTA 

A reafirmação de que o futebol é um esporte coletivo. Ninguém ganha sozinho uma competição como a Copa do Mundo. É preciso ter uma grande equipe para além de um craque fora de série. Por isso, Messi e Cristiano Ronaldo se despediram no mesmo dia da Copa da Rússia. A Argentina e Portugal nesta Copa passaram longe de serem boas equipes. Quando isso acontece, não há Messi, nem Cristiano Ronaldo, nem Pelé, nem Maradona que resolva... 

EM BAIXA 

O futebol africano, cujas seleções foram todas eliminadas na primeira fase da Copa do Mundo.

CHOICE TO MARRY


"(...) the person whom you choose to marry is perhaps the single most vivid representation of your own personality. Your spouse becomes the most gleaming possible mirror through which your emotional individualism is reflected back to the world. There is no choice more intensely personal, after all, than whom you choice to marry; that choice tells us, to a large extent, whom you are." (Elizabeth Gilbert)  

segunda-feira, 25 de junho de 2018

ENIGMA


Latifúndio, beijo, toque...
Nem traiu e nem amou...
A quimera do escravo...
Era vidro e se quebrou.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

LVI


Todos querem pagar as suas contas;
Falta tempo pra ter qualquer deleite;
Segue o junho de Copa sem enfeite
De pessoas que nem baratas tontas.

Ninguém sabe juntar as duas pontas;
Uns reclamam da nota sem aceite;
Outros querem pra si todinho o leite,
Nesta era de coisas todas prontas.
  
O consumo se faz a meta humana;
O prazer se resume ao que emana
Do produto que compra o vil metal.

Cada vez as pessoas mais amargas,
Percorrendo apressadas ruas largas,
Vão perdendo o que há de essencial. 

Eliton Meneses

domingo, 17 de junho de 2018

FUTEBOL




O futebol. Ah, o futebol...
O futebol que inebria, que contagia, que, às vezes, faz poesia com os pés.
Muito mais que um esporte: uma seita, uma catarse coletiva...
O encontro dos povos em torno de uma bola.
Uma guerra sem armas; um choro sem lágrima.
A conquista do mundo sem destruir ninguém.
Algo demasiado estranho na linha frágil do racional.

Há forças ignotas que nos regem:
Bandeiras, mapas, nomes, símbolos...
Há forças contra as quais não adianta resistir.

Dizem que é o ópio do povo;
Ora, mas quem disse que o alimento do corpo vale mais que o alimento da alma...?

Eliton Meneses

sábado, 16 de junho de 2018

domingo, 10 de junho de 2018

ÁRVORE



Um menino espiava ao longe uma árvore. Mergulhado até o nariz no rio, mirava distante uma árvore que se destacava em meio às demais. Uma árvore na serra ao longe. Perto dela, as outras pareciam grama. No alto da serra, uma árvore se destacava das outras. Grande, imponente, feminina... Até parecia acenar para o menino. Fala-se que toda pessoa deve plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Aquele menino não precisou plantar a árvore. Ainda pequeno adotou uma. Uma árvore distante, da qual nunca se aproximou. Mas uma árvore que era sua, mesmo sem nunca tê-la tocado. Durante os anos em que morou na Palma, pensou em subir a serra, ir ao encontro dela, tocá-la, saber de que espécie era. Nunca foi. Passaram-se os anos e, morando distante, toda vez que volta à terra, para na estrada antes da cidade para contemplar sua árvore, ainda altiva no topo da serra depois de tantos anos, cada vez mais forte, cada vez mais bela. Quem sabe um dia ainda suba a serra, para vê-la de perto, para tocá-la. De todo modo, a árvore e o menino são íntimos mesmo sem se tocarem, mesmo sem se verem de perto. A árvore permanece parada no topo da serra enquanto o menino caminha pelo mundo. De alguma forma, o menino carrega consigo a árvore e a árvore mantém consigo o menino no topo da serra. Desde aquela longínqua manhã de verão no rio que o menino carrega consigo aquela árvore. Os dois se gostam e necessitam um do outro. A árvore, para que o menino a carregue pelo mundo; o menino, para que a árvore mantenha fincadas as raízes dele no chão da sua terra...

domingo, 3 de junho de 2018

LV


Anoitece e ainda escuto a lira;
O amor é um símbolo sagrado;
Não devemos deixá-lo magoado,
Mesmo quando vencidos pela ira.

Solitário, um corpo inda delira,
Com os olhos no céu enluarado;
Tão distante agora o ser amado
Dum poeta soturno que suspira.

Corre a flor amarela pelo vento;
A saudade é a dor que mais consome
A rotina cruel dos dias meus.

O amor é de Deus maior invento;
É difícil matar a minha fome,
Sem a chama da luz dos olhos teus.

Eliton Meneses