quinta-feira, 24 de abril de 2008

De todas essas andanças
Não me restou quase nada:
Só um velho carcomido,
Carregado de lembrança
E um punhado de saudade.
Nasci em véspera de mudança,
De nômade acabei sedentário,
Trazendo pedaços de verdade,
Errante em sinuoso itinerário.
Na lida do eito nunca laborei.
Por herança me fiei na pescaria.
Na água turva do açude hesitei:
Pau nascido torto, torto morreria.
No rádio tocavam modas antigas,
No céu prenúncio de sólido verão,
Mamãe me ninava tristes cantigas,
Desde criança me seguiu a solidão.
Indo embora para a Palma,
À Volta não mais regressei,
Na beira do açude talhei minha alma,
Amigos e parentes para sempre deixei.
Lembranças não ficam sempre conosco,
Vêm e se vão sem nem perguntar...
Há sabido caindo no fundo do poço,
Há estúpido fugindo do seu limiar.