Nos meus tempos de criança, o conceito de gente de bem era diferente. Eram pessoas respeitadas naturalmente e tidas como exemplo a ser seguido. Eram pessoas tão confiáveis que tudo que vinha delas era aceito como algo sincero e verdadeiro, acima de qualquer suspeita e, como se dizia então, a gente "botava fé".
Eram pessoas que a gente gostava de saber que existiam, porque isso nos dava a sensação de segurança de que tudo acabaria bem.
Claro que havia, como sempre houve, os que não prestavam, os malandros, os falsos e os que tentavam sempre enganar os outros, mas esses eram chamados com desprezo de "espertalhões".
As pessoas de bem destacavam-se naturalmente dessa ralé moral.
Em alguns países, essa integridade, felizmente, ainda persiste.
Dentre nós, brasileiros, tais valores foram-se perdendo. Quem tenta ser honesto é tido como ingênuo, bobo, crédulo, que merece ser enganado por ainda acreditar e confiar nas pessoas. Para os cearenses é o abestado ou o lesado.
Ultimamente, a mentira virou a moeda de troca. O que antes era tido como um boato, que logo passava, hoje é repetido como verdade incontestável.
Quase todo mundo quer receber e passar adiante as notícias que recebe (e são muitas), como se fosse a atitude certa a tomar, como se decidir de outra maneira fosse atraso ou falta de informação.
A mentira não mais importa, o importante é tentar-se sobressair a qualquer custo. De repente, tem pessoas falando de lugares em que nunca estiveram, postando fotos de uma felicidade que nunca sentiram, até citando escritores que nunca leram e dos quais falam com bastante intimidade!
Quase todos querem passar a ideia de que são felizes, ricos, ajustados e, acima de qualquer coisa, muito, muito divertidos e bem-humorados. E os que não retribuem são chamados de coitados, despeitados, complicados.
Foi nesse triste universo de ilusões e de situações falsas que começaram a surgir e a se agigantar as mentiras em bloco, agora chamadas de "fake news". Elas foram capazes de alavancar candidaturas de políticos, na maioria gente insignificante e sem expressividade, oportunistas de momento, atualmente ocupando altos cargos e espalhando mais mentiras, para se manterem neles. Mantêm até grupos de assessores especializados em criar mais situações ilusórias e mirabolantes. Além desses, os vários seguidores, os quais atacam e ameaçam os poderes legalmente constituídos e seus integrantes, avacalham as instituições, insultam cidadãos e trabalhadores (da área da saúde principalmente nestes tempos), pregam descaradamente a violência, querem a derrubada do Congresso, são defensores da luta armada e do retorno do triste e revoltante tempo da ditadura militar, com seus horrores, perseguições e torturas, como salvação para o Brasil que deverá ficar acima de tudo.
Essas são, agora, AS PESSOAS DE BEM, como elas próprias se intitulam.
Quem descobriu o logro, quem reconhece que foi enganado, quem constatou o golpe de que foi vítima, para não encarar a verdade que não consegue negar, inventa mais mentiras, repassa todas as que recebe, investe contra todos com ódio e raiva, com certeza até de si mesmo, por ter sido tão estúpido.
Precisou-se criar um projeto de lei para impedir que nós brasileiros deixemos de ser fáceis de enganar e seduzir por falsas promessas e "verdades" absurdas: que o presidente ameaçou vetar, quando se transformar em lei, e que seus queridos filhos consideram como mordaça para os que querem espalhar o que lhes convém.
Deus acima de todos!
Gomes (O Anônimo)
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