Depois de quase três anos, com o coração partido, eis que chegou a hora da partida. Saio de Aracati com uma mala carregada de saudade. Saio às pressas, sem tempo de me despedir. Melhor assim. Não sou afeito a despedidas. Devo muito a essa terra. Muitos amigos, a melhor fase da minha vida profissional, alguns lampejos (raros) de inspiração, o encontro com a luta social, o reencontro com a igreja de Cristo... Devo muito a Aracati. Não vou listar os amigos, seria injusto não mencionar todos. Sentirei falta do futebol da quarta na praça, do bate-papo do café entre uma audiência e outra, das muitas e muitas pessoas que tive o prazer de atender, com as quais mais aprendi do que ajudei, dos companheiros de trabalho, daqueles que tive a honra de visitar na prisão, daquela senhora que lacrimejou quando eu disse que era meu último dia na terra dos bons ventos... Em Aracati aprendi muito com a luta dos pescadores do Cumbe pela preservação do seu modo tradicional de vida contra as forças poderosas do capital, uma resistência heroica que transcende a força humana, aprendi que ainda existe uma igreja de Cristo comprometida com a causa do oprimido, aprendi que é só lutando, na luta organizada do povo, que se constrói um mundo novo, aprendi também que uma Defensoria Pública estruturada é uma poderosa ferramenta de transformação social. Ainda tinha muito a aprender, mas a vida é feita de mudanças e é chegada a hora de mais uma. É hora de voltar para perto de casa, depois de alguns anos dormindo solitário num quarto de hotel. É hora de voltar para perto da família, de vê-la todo dia e não mais só nos finais de semana. Meu filho está crescendo e não quero ficar muito tempo longe dele. Estou partindo, com o coração partido, mas ciente de que ficará em Aracati um pedaço de mim. Estou partindo para perto de casa, trocando 150 km por não mais que 25 km, para a região metropolitana de Fortaleza, para Pacatuba, podendo na prática dizer que voltei para casa. A saudade da partida só está sendo compensada pela alegria da chegada.
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