quarta-feira, 27 de março de 2013

AS FLORES DO COREAÚ



Essas simples flores estavam espalhadas pela beira da estrada entre Araquém e Coreaú, quando vinha de lá pra cá hoje, pedalando. São pequenos pedacinhos de vida que desabrocharam no barro do aterro, outrora aparentemente inerte e morto. Pequenas graças, que nos são dadas diariamente, e passam tantas vezes despercebidas. Ofereço-as a todas as mulheres importantes de minha vida e às que são importantes nas vidas de outros que porventura venham a vê-las aqui ou noutro perfil. Dou de graça o que de graça recebi através do sentido da visão, como forma de louvação. Paz e luz a todas nessa tarde linda de inverno!

Benedito Gomes Rodrigues
Membro da APL

segunda-feira, 25 de março de 2013

PRESUNÇÃO PATER IS EST



A despeito do advento do exame de DNA e do reconhecimento da união estável como entidade familiar  (art. 226, § 3.º, CF/88), o Código Civil de 2002 preserva um sistema de presunção de paternidade, estabelecido desde o Código Hamurabi, para os filhos concebidos na constância do casamento (art. 1.597, CC). Trata-se da presunção pater is est quem justae nuptiae demonstrant, ou simplesmente pater is est, expressão oriunda do Direito Romano, que atribui ao marido a paternidade do filho concebido durante o casamento. Tal presunção possui natureza juris tantum (relativa), podendo ser ilidida por prova contrária, especialmente o exame de DNA.
O novel Código Civil estabeleceu a presunção com olhos postos tão somente na família formada pelo casamento civil, ignorando a especial proteção dedicada pela Constituição Federal à união estável, os avanços científicos e a realidade do povo brasileiro, cujas famílias são instituídas, majoritariamente, por casais conviventes. A doutrina, notando a omissão do legislador, tem defendido que a presunção pater is est seja aplicada, por analogia, à união estável, tanto por essa ser reconhecida constitucionalmente como entidade familiar (art. 226, § 3.º, CF/88), quanto pela proibição, também constitucional, de todo e qualquer tratamento discriminatório entre os filhos (art. 227, CF/88).    
Em verdade, deve-se conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 1.597 do Código Civil para se aplicar por analogia a presunção pater is est aos filhos nascidos na constância da união estável, visto ser intolerável a discriminação entre os filhos nascidos do casamento e os filhos nascidos da união estável (RSTJ 5:307).
Muito embora, na prática, a aplicação analógica da presunção pater is est reclame alguma adaptação, como a prévia comprovação da união estável no momento da concepção, não seria pela adaptação que se negaria a incidência da presunção.
Nesse mesmo passo, o Superior Tribunal de Justiça recentemente, num precedente pioneiro e paradigmático, decidiu conferir interpretação sistemática ao art. 1.597 do Código Civil para, em homenagem à Constituição Federal (art. 226, § 3.º) e ao Código Civil (art. 1.723), aplicar a presunção pater is est também à união estável (REsp 1.194.059/SP, 3.ª Turma, rel. Min. Massami Uyeda, DJe 14.11.2012).
Tal precedente revela um direito mais comprometido com a dignidade da pessoa humana e atendo à pluralidade de entidades familiares e à isonomia constitucional entre os filhos, respaldado na ideia de que: "na fase atual da evolução do Direito de Família, é injustificável o fetichismo de normas ultrapassadas em detrimento da verdade real, sobretudo quando em prejuízo de legítimos interesses de menor" (RSTJ 26:378).   

domingo, 24 de março de 2013

O QUE É MIGRAÇÃO?



O sentido de migração está em trocar de região, país, estado ou até mesmo domicílio. A migração interna no Brasil, por exemplo, acontece principalmente por motivos econômicos e desastres ecológicos.
Em um primeiro plano, deve-se entender que o aumento populacional gera uma série de problemas ao local de destino. E a questão de saúde e segurança do país, que já não é ideal, fica cada vez mais precária caso não haja limite de absorção por cidade. Logo, faz-se necessária a ampliação da fiscalização, evitando inchaço populacional.
Por outro lado, a chegada desses indivíduos poderia contribuir para o crescimento do país, principalmente onde há carência de profissionais. E, para que isso seja possível, as ONGs poderiam oferecer curso de profissionalização, aproximando-os da dinâmica social do país, não bastando oferecer apenas água e alimentos, como fez o Estado do Acre com a chegada de 500 haitianos.
Torna-se evidente, portanto, que o país precisa saber lidar e administrar a chegada desses habitantes para que sejam extraídos mais aspectos positivos.

Marinara Albuquerque
3.º Ano - Colégio Pedro II

sábado, 23 de março de 2013

LEMBRANÇAS DO BENFICA



Por quase uma década, regularmente, percorri uma rua entre a Duque de Caxias e a Domingos Olímpio. Até aqui nada de mais, a Avenida do Imperador é conhecida de todos os fortalezenses, eu imagino, dois colégios tradicionais da cidade e classes bem diferentes. Nessa mesma rua, na casa K, havia uma velha que durante muito tempo ao me aproximar me pedia um cigarro, eu nada respondia. Pensava que talvez fosse apenas a força do habito e da dependência de longos anos de fumo. O curioso é que todas as vezes que eu a mirava nos olhos ela falava exatamente da mesma maneira de outras tantas vezes em que eu me aproximava da casa de porta e janela. Para meu espanto, um dia me aproximava e num gesto inconsciente resolvi antes que proferisse o seu mantra ao desconhecido, sorri sem reservas, e ela não me pediu cigarro como de outras vezes. Ela simplesmente sorriu muito satisfeita, como se sorri a um velho conhecido. Resolvi não mais cruzar a calçada da casa K. Fiquei com a impressão de que o que ela realmente me pedia não era apenas a velha lembrança do vício, o que queria talvez fosse simplesmente um contato, estranho que fosse, mas um contato.

Gilmar Paiva
Poeta

quarta-feira, 20 de março de 2013

SURDO-MUDO



Cores vejo em vários tons,
O arco de um céu colorido,
Mas se me negaram os sons,
Vago o mundo ensurdecido.

Sinto o sabor do alimento,
Com u'a língua emudecida,
Bebo a água doce, sedento,
Falto da plena vida sentida.

Num silêncio perturbador,
Escorre-me a relva florida.
Absorvo o perfume da flor,
Diviso u'a silhueta perdida.

Não escuto o silvo do vento,
Na boca há um grito contido.
O sonho da noite é um alento,
Do mundo sem voz padecido.

Eliton Meneses

terça-feira, 19 de março de 2013

JUDEUS NO ARAQUÉM - PARTE II



Li sua publicação sobre a presença de judeus em Araquém e lhe afirmo que há indícios muito fortes de que isto seja verdade.
Existiam em Coreaú dois irmãos: Pacífico da Costa de Araújo e Antônio Felix da Cunha, ambos filhos de Antônio Felix (Ferrugem), dono de terras nas proximidades do Riacho Pau Ferro, em Moraújo.
Deve-se notar a diferença nominal destes filhos de mesmo pai e mãe.
Acontece isso graças à perseguição e intolerância religiosa e estatal.
E, como poucos sabem, Araquém é bem mais antigo do que Coreaú e foi um centro de mestiçagem de pessoas de diversas origens.
Por exemplo, a família Cardoso veio de origens pernambucanas portuguesas.
Os novos Felix são descendentes de Antônio Felix da Cunha, já citado, e da filha de Gabriel Antunes de Aguiar Aroeiras, um dos participantes da Confederação do Equador, que se casou com "Chica do Mota", uma mulata descida da Serra da Meruoca.
Ou seja, o Araquém é habitado por descendentes de europeus, judeus, negros e, principalmente, índios, já que esta é a terra de Iracema e Irapuan, além de seu pai, o grande Araquém.

Xaxandre Pinto de Queiroz
Estudante de Direito

segunda-feira, 18 de março de 2013

A DEFENSORIA PÚBLICA NA EXECUÇÃO PENAL



A Lei n.º 12.313/2010 incluiu a Defensoria Pública dentre os órgãos da execução penal, dispondo que a instituição velará pela regular execução da pena e da medida de segurança, oficiando, no processo executivo e nos incidentes da execução, para a defesa dos necessitados em todos os graus e instâncias, de forma individual e coletiva. 
A Defensoria Pública, nos termos da nova Lei, poderá requer todas as providências necessárias ao regular desenvolvimento da execução penal, inclusive postulando, em sendo o caso, a interdição, no todo ou em parte, do estabelecimento penal.  
A Defensoria Pública atuará dentro e fora dos estabelecimentos penais, devendo as Unidades da Federação prestar-lhe auxílio estrutural, pessoal e material, inclusive assegurando que em todos os estabelecimentos haja local apropriado destinado ao atendimento pelo Defensor Público. 
O Defensor Público deverá visitar periodicamente os estabelecimentos penais, registrando a sua presença em livro próprio, devendo, ainda, compor o Conselho da Comunidade (outro órgão da execução penal) e receber cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho de cada um deles.
A Lei n.º 12.313/2010, conferindo à Defensoria Pública a condição de órgão da execução penal, descerrou-lhe um universo de atribuições tendentes a torná-la uma protagonista na luta contra o caos em que acabou se convertendo o sistema carcerário nacional. Nesse propósito, a atuação da Defensoria Pública não deverá pautar-se somente pela necessidade econômica do assistido, devendo-se atentar também, sempre que preciso, dadas as peculiaridades da execução penal, para a necessidade jurídica e a necessidade organizacional. 

sábado, 16 de março de 2013

JUDEUS DO ARAQUÉM?



A Estrela de Davi é o símbolo do povo judeu, encontrada comumente em antigas sinagogas e túmulos judaicos. Na foto, nota-se o símbolo judaico gravado num túmulo do cemitério de Araquém, um possível indício da passagem dos judeus pelo distrito coreauense.

Estrela de Davi

DO CABURAÍ AO CHUÍ




"A disputa em torno da condição de extremo setentrional do Brasil deve-se à antiga tradição brasileira de se considerar, como extremo norte do país, o Cabo Orange, no Rio Oiapoque, no estado do Amapá, popularizada pelo uso da expressão do Oiapoque ao Chuí para se designar os extremos norte e sul do Brasil. No entanto, o Cabo Orange, cuja latitude é 4º 30' 30" norte, situa-se 84,5 km mais ao sul que o Monte Caburaí.
Em 1998, uma expedição oficial realizada sob a coordenação do prefeito de Uiramutã, Venceslau Braz de Freitas Barbosa, teria alcançado o monte pela primeira vez e confirmado ser o Monte Caburaí o verdadeiro ponto extremo norte do Brasil e não o Cabo Orange, no Rio Oiapoque. Os expedicionários roraimenses comprovaram que o Monte Caburaí está localizado 84,5 quilômetros acima do rio Oiapoque.
Depois da expedição, o Ministério da Educação (MEC) foi obrigado a fazer a modificação nos livros didáticos de Geografia, que anteriormente tinham o rio Oiapoque (no Amapá) como o ponto mais setentrional do País." (Wikipédia)
Com o reconhecimento do Monte Caburaí, no Estado de Roraima, como o extremo norte do País, deve-se corrigir a conhecida expressão "do Oiapoque ao Chuí" para "do Caburaí ao Chuí."

MERAS COINCIDÊNCIAS


No dia anterior ao início do conclave para a eleição do novo papa, publicamos uma postagem sobre Jorge Luis Borges, comumente aclamado como o maior escritor argentino de todos os tempos. O papa eleito, para surpresa de todos, foi um também argentino, também nascido em Buenos Aires, também chamado Jorge. O novo papa escolheu o nome Francisco para o seu batismo como pontífice. Borges, na verdade, chama-se Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo. Enfim, Borges também se chama Francisco. Além disso, o papa Francisco é um amante confesso da literatura. E sabem quem é o escritor predileto do novo pontífice? Isso mesmo, o seu conterrâneo Jorge Luis Borges... Muita coincidência, não?   
Já não bastasse tanta coincidência, na nossa primeira viagem a Buenos Aires, numa visita à Casa Rosada, resolvemos entrar na Catedral Metropolitana, que fica do lado, na mesma Praça de Maio, e acompanhar a missa que estava em curso. Um certo cardeal que lamentava a crise argentina conduzia a missa... Adivinhem quem era? 

quinta-feira, 14 de março de 2013

VEREDAS SINUOSAS



Acaba de chegar, direto da Califórnia, Estados Unidos, um primeiro lote da primeira edição da nossa coprodução com o companheiro Benedito Rodrigues, Veredas Sinuosas – Poesia e Prosa. 
A venda é exclusiva pela internet, no site www.blurb.com. É só digitar Veredas Sinuosas no quadro de busca da página eletrônica e seguir os passos da compra. Mas, como promoção, as 05 (cinco) primeiras pessoas que enviarem e-mail, com nome e endereço, para fcoeliton@ibest.com.br receberão o livro inteiramente grátis, em casa. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

SALVE, Ó FRANCISCO!



Annuntio vobis gaudium magnum;
habemus Papam:
Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum,
Dominum Georgium Marium,
Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem Bergoglio,
qui sibi nomen imposuit Franciscum.

A despeito de o novo papa ser um jesuíta conservador distanciado da Teologia da Libertação da América Latina e suspeito de condescendência com a ditadura militar argentina, não podemos deixar de saudá-lo; afinal, pela primeira vez na história, temos um papa sul-americano e que invoca o nome de Francisco de Assis para o batismo do seu pontificado. Um religioso conhecido pela simplicidade, humildade e defesa das pessoas carentes.
Salve, ó Francisco! Que a "luz que brilhou sobre o mundo" alumie os seus passos!

Em Aracati, logo que a fumaça branca apareceu na chaminé da Capela Sistina, um festival de fogos se ouviu por toda a cidade, saudando a eleição do novo papa. No entanto, momentos depois, uma vez anunciado o nome e, sobretudo, a origem do pontífice, o silêncio foi absoluto.
Ao deixar o fórum e chegar no hotel, indaguei do moço da recepção o que achava do novo papa, e ele me respondeu:
– Perdemos de novo! 1 a 0 Argentina! 

segunda-feira, 11 de março de 2013

JORGE LUIS BORGES



Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Genebra, 14 de junho de 1986) foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino. 
Sua obra abrange o "caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura". Seus livros mais famosos – Ficciones (1944) e O Aleph (1949) – são coletâneas de histórias curtas interligadas por temas comuns: sonhos, labirintos, bibliotecas, escritores fictícios e livros fictícios, religião, Deus. Seus trabalhos têm contribuído significativamente para o gênero da literatura fantástica. Estudiosos notaram que a progressiva cegueira de Borges ajudou-o a criar novos símbolos literários através da imaginação, já que 'os poetas, como os cegos, podem ver no escuro'". (Wikipédia)

"A exemplo do poeta português Fernando Pessoa, Borges cresceu falando e lendo inglês, segundo consta, tendo lido Cervantes em língua inglesa, antes de fazê-lo no original. Desde o princípio, foi pequena, para Borges, a distinção entre a leitura, como espécie de reescritura, e a escrita em si. (...) Foi em De Quincey que Borges encontrou, pela primeira vez, um dos seus princípios cardeais de que a linguagem organiza e reescreve o cosmo: (...)
Espelhos, tanto quanto labirintos e bússolas, como se sabe, ocorrem com frequência em Borges: constituem metáforas que se propõem a responder o enigma da Esfinge de Tebas: o que é o homem? Borges aprendera com De Quincey que o próprio Édipo, e não o homem, de modo geral, é a verdadeira solução da charada. Édipo cego, Homero, Joyce, Milton e Borges: eis um quinteto de um só. A mãe de Borges morreu aos 99 anos, após trabalhar durante muito tempo na função de secretária do filho. Urbano, irônico, polido, Borges só perde a compostura quando o nome de Freud lhe é mencionado. Dignifiquemos Borges associando-o a Édipo, o homem, e não o complexo. A genialidade de Borges, especialmente da sua obra de não-ficção, é demonstrar o que é o homem: sujeito e objeto da sua própria busca." (Harold Bloom) 

sábado, 9 de março de 2013

GALBA GOMES E RAIMUNDO GOMES



José Galba de Menezes Gomes é cirurgião-dentista, professor, escritor, nascido em Coreaú, em 12 de dezembro de 1943.
Há tempos radicado em Fortaleza-CE, Dr. Galba Gomes nos honra muito, também, como membro da Academia Palmense de Letras (APL), ocupando a cadeia de n.º 06, cujo patrono é outro coreauense e dentista, no caso, o Dr. Raimundo Gomes.
Por seu turno, Dr. Raimundo Gomes (tio-avô do Dr. Galba Gomes), nascido na Palma, em 06 de agosto de 1879, e falecido em Fortaleza, no dia 3 de setembro de 1961, cuida-se da figura que foi homenageada (in memoriam) pelo Município de Coreaú, visto que o Posto de Saúde inaugurado no dia de ontem, 08 de março de 2013, leva seu nome no frontispício.
Voltando ao Dr. Galba Gomes, é de autoria dele o livro "1968 E OUTROS MOMENTOS NA ODONTOLOGIA, NA POLÍTICA E NA CIDADANIA PLENA", publicado em 1999, pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR.
Portanto, duas figuras da mesma família, com atributos muito semelhantes.

Fernando Machado Albuquerque 
Professor/Membro da APL

P.S.: O autor teve como fonte o livro História de Coreaú (1702-2002), de Leonardo Pildas.

CHANCELLER 100



De cócoras no meio da sala, Baía mal olhava para a televisão, curubijando a mistura do meu prato raso de arroz e feijão. Naqueles tempos de dificuldade, o bife de carne pareceu-lhe uma iguaria tentadora. No meu fastio crônico de menino desnutrido, eu apenas remexia desinteressado o prato com a colher, sem desgrudar os olhos do desenho animado.    
Baía acabara de mostrar-me, antes do almoço, a nova aquisição da sua invejável coleção de carteiras de cigarro. Era uma Chanceller 100, dobrada com esmero em forma de dinheiro, miúda e rara, estampada com faixas azuis em diferentes tons, ocupando um canto destacado da sua maleta de madeira. Fiquei boquiaberto.  
As carteiras de algum valor da minha pobre coleção não passavam de três: uma Mustang, uma Arizona e uma Minister. As demais eram carteiras muito comuns nas ruas da cidade. Talvez toda a minha coleção não chegasse ao valor da Chanceller.
Baía era menino sereno, precoce para a idade, organizado. Não nos acompanhava nas andanças atrás de carteira pelas ruas. Tinha fornecedores, alguns donos de bar, alguns fumantes endinheirados, alguns caminhoneiros de passagem pela cidade.
Estranhei o interesse dele pelo bife. Imaginava que na casa dele passava-se melhor. Ofereci um pedaço. Ele balançou desconfiado a cabeça afirmativamente. Perguntei se ele queria negociar o bife todo. Ele voltou os olhos para a televisão, com alguma indiferença. Disse que trocaria o bife pela Chanceller 100 dele. Baía, com os olhos ainda na televisão, fez um rápido sinal de positivo com o polegar e se retirou. 
Arrependi-me da proposta ofensiva. Devia ter ferido os brios do amigo. Interpretei o sinal positivo do polegar como uma ironia. Estava certo de que ele não negociaria a sua valiosa Chanceller 100, recém-adquirida, por nada no mundo.
Antes que eu parasse de pensar no episódio e começasse a almoçar a comida já fria, porém, eis que me ressurge o Baía, com a Chanceller 100 em mãos, entregando-a a mim. Não me contive. Passei-lhe o bife com as mãos trêmulas e corri para o quarto para apreciar incrédulo a raridade que acabara de adquirir.       
Pouco depois, vendo o prato de arroz e feijão no meio da sala, D. Leda me chamou:  
– Bora menino, comer o resto! Ó menino réi doido por carne! 

sexta-feira, 8 de março de 2013

DIÁRIO NEWS


¡ADIÓS, CHÁVEZ! 

É natural que a nossa grande mídia tenha sempre tentado retratar Hugo Chávez como uma figura  autoritária, populista e caricata. Os avanços sociais da República Bolivariana da Venezuela não interessam; a resistência ao imperialismo, tampouco. As eleições por lá não representam democracia. O apoio das bases populares ao Governo de Hugo Chávez não interessa. O que interessa para a mídia é um Chávez alvo de um arroubo autoritário do rei Juan Carlos: – ¿Por qué no te callas? O que interessa para a mídia, historicamente conservadora, é um mundo sem resistência, sem Chávez e sem chaves para descerrar os grilhões de uma audiência passiva.  

SECA GLOBALIZADA

As correntes de ar que cruzam o Oceano Pacífico e a temperatura das águas do Atlântico Norte, influenciadas pelas geleiras do Polo Norte, determinam o ciclo das chuvas e secas no Nordeste do Brasil. Atentos aos indicadores dos oceanos, os institutos de meteorologia já haviam anunciado timidamente que 2013 seria mais um ano seguido de seca no Nordeste. Com a Zona de Convergência Intertropical (correntes de ar úmido que envolvem a Terra próximo à linha do equador) distante da região, a previsão vem-se confirmando na perspectiva mais dramática. A seca de 2012, considerada a maior dos últimos 40 anos, espraia assustadoramente sua aridez  pelo ano de 2013. Na sua árdua convivência com o semi-árido, o nordestino defronta mais uma grande seca, possivelmente tão grave quanto a de 1583/1585, a de 1720/1791 e a de 1877/1879, em que pese as atuais condições socioeconômicas e estruturais da região tenham conseguido mitigar consideravelmente o flagelo e o êxodo vistos nas secas de outrora.        

ABAIXO O PRECONCEITO

A Corregedoria do Tribunal de Justiça do Ceará determinou que os cartórios do Estado convertam, quando  solicitados pela partes, as uniões estáveis homoafetivas em casamento. O Ceará é a 8.ª Unidade Federativa a adotar a medida, deflagrada depois da orientação jurisprudencial firmada pelos Tribunais Superiores acerca da matéria. Alagoas, Bahia, São Paulo, Piauí, Sergipe, Espírito Santo e Distrito Federal já haviam derrubado a barreira jurídica preconceituosa. Salve a diversidade!  

terça-feira, 5 de março de 2013

VELHA SALAMANCA



Foram quatro anos e meio
De um namoro atribulado.
De hesitação, de novo veio,
Em aprendizagem plasmado.

Foram quatro anos e meio
De morada quase do lado;
De lucubração e devaneio
Num palmilhar demasiado.

Foram quatro anos e meio
De um estudo disciplinado;
De amigos cheios de anseio;
De um estágio remunerado.

Foram quatro anos e meio
De rol de lente autorizado;
Um tempo de juvenil enleio
Que não pode ser olvidado.

Eliton Meneses
Da Turma 1996.1

O POVO - JORNAL DO LEITOR


domingo, 3 de março de 2013

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO


ANIVERSARIANTES DO DIA




Hoje fazem aniversário meu filho e meu pai! João Pedro faz 05 anos e o avô Oneon 75. Feliz aniversário e vida longa, com saúde e paz, para ambos.
"(...) Me lembro de todas as lutas meu bom companheiro; você tantas vezes provou que é um grande guerreiro!"

Amico by Roberto Carlos on Grooveshark

sexta-feira, 1 de março de 2013

O LERUÁ NO SERINGAL



– Como é que pode, rapaz! Como é que pode?! 
Bradou Vicente Chico no pátio da mercearia modesta do decadente seringal. A dívida acumulada pelo seringueiro já não permitia novos acréscimos. O minguado salário dos próximos meses não comportaria nem mais um trago de cana.   
– Bota mais uma, rapaz! Bota aí mais uma! Eu sou é o Vicente Chico! O campeão do Leruá de Coreaú e de toda a região da Serra da Meruoca!
Insistiu Vicente Chico, já furioso, aos requebros e gatimanhos no terreiro, em meio à mata fechada do seringal paraense, articulando precariamente as palavras céleres e quase incompreensíveis.
O segundo ciclo da borracha havia cessado, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Na Amazônia, os seringais estavam em extinção. Os remanescentes dos "soldados da borracha" começavam a voltar, quase todos, para o seu Nordeste, dentre eles Vicente Chico e Oneon, endividados, adoentados e sem perspectiva de vida.
O comerciante gaúcho, até então, nunca ouvira falar em Coreaú ou em Serra da Meruoca. Também não fazia a mínima ideia do que viria a ser o Leruá. Mas ficou um tanto intrigado pelo fato de aquele humilde seringueiro – alto e magricela – afirmar-se campeão em alguma coisa.
Oneon cedeu aos apelos de Dona Fransquinha e saiu contrariado de sua cabana em busca de Vicente na bodega do seringal. Ainda ao longe avistou a dança indignada do conterrâneo no terreiro e não conteve a  apreensão com uma possível represália da capangada. Ao aproximar-se, porém, viu aliviado que o próprio comerciante findou oferecendo ao irrequieto seringueiro uma dose de cana, arrefecendo-lhe o ânimo para tentar aplacar a curiosidade:
– O senhor é campeão mesmo em quê?
– Sou o campeão do Leruá da região da Serra da Meruoca, rapaz!
Antes que a conversa encompridasse, Oneon interveio, intimando o camarada para retornar para a cabana, onde a mulher o aguardava pressurosa.
Vicente declarou que homem nenhum o tiraria da bodega. E, diante da ameaça do camarada de levá-lo na marra, encarou irônico a pouca estatura do conterrâneo afoito e arrematou:
– Só acho pouco é o volume!