sábado, 31 de maio de 2014

FRASE DO MÊS



"Nenhuma redução de desigualdade, seja ela econômica, social, racial, de gênero ou orientação sexual, passa incólume à reação. Tradição e privilégios jamais se rendem sem resistência." (Marcelo Semer)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

CAÇA E PESCA



Zé Mago e Taboca foram pescar. Na bicicleta surrada seguiram rumo ao açude do Cunhassu. Atravessaram o rio na canoa de seu Valto, pararam um instante no regato cheio, cruzaram o açude do Meio, o campo do Raimundo Abílio, o Pereirão frondoso... Quase ao anoitecer, chegaram na porteira de seu Tarcísio.
Bateram palmas, mas ninguém respondeu.
– Ó de casa?!
O único som que ouviram foi o das galinhas e dos perus no quintal.
Seu Tarcísio, a mulher e os oito meninos tinham ido à rua para a missa da Semana Santa.
Com a casa de apoio fechada, os pescadores não poderiam pernoitar no Cunhassu. Dormir ao relento era coisa para pescador antigo. O jeito era bater água até a lua clarear e ir embora logo em seguida.
Armaram as redes, percorreram o açude em câmaras de ar, batendo na água com varas de pau para acuar os peixes, esperaram meia hora...
Apesar da disposição dos pescadores, a pouca experiência de ambos, o vento forte e o claro da lua tornaram a pescaria um trabalho vão. Depois de três tentativas, não conseguiram nada para além de uma curimatã e um piau miúdo.
Refizeram desapontados seus petrechos e, já prontos para regressarem à rua, acorreu a Zé Mago a ideia de não voltar para casa com um único piau de uma empreitada tão árdua.
Sem que Taboca percebesse, Zé pulou a cerca do quintal de seu Tarcísio e, com pouco, reapareceu com duas galinhas nas mãos.
Acocorou-se na beira d'água, quebrou-lhes os pescoços e as despenou ali mesmo, para espanto de Taboca.
Acomodadas as aves no garajau, os amigos partiram confiantes rumo à Palma, depois de combinarem que cada um ficaria com uma galinha e um peixe.
A viagem de regresso seguia tranquila até que os pescadores esbarraram na estrada com seu Tarcísio, que vinha com a família de volta da missa.
– Oba, meu amigo Taboca! De onde vocês vêm? Perguntou seu Tarcísio.
Antes de Taboca responder, Zé Mago atalhou às pressas:
– A gente estava caçando pra cá do Araquém, seu Tarcísio.
– Ah, e essas galinhas no cesto?!
– Não, seu Tarcísio, são duas nambus!
– Nambu?! Desse tamanho?! Nunca tinha visto!
– É que são nambu zabelê, seu Tarcísio!
Zé Mago sabia que nambu zabelê era ave de mata muito distante, mas a despista improvisada pareceu convencer seu Tarcísio, que se despediu animado e seguiu confiante sua caminhada, para alívio dos pescadores.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

IMAGENS DO CEARÁ - JUAZEIRO DO NORTE



"Juazeiro do Norte está situada no Sul do Ceará, ocupando área de 248 km² com população de quase 300 mil habitantes. A cidade tem na figura do Padre Cícero Romão Batista um marco na construção da religiosidade, da cultura do seu povo e acontecimentos políticos do Cariri. Quando o sacerdote chegou em abril de 1872, cavalgando num jumento, era apenas um arraial com algumas poucas casas de tijolos e uma rústica capela.
Graças a ele, Juazeiro é considerado um dos maiores centros de religiosidade popular da América Latina, atraindo 1,5 milhão de fiéis por ano os quais vêm reverenciar Nossa Senhora das Dores e Padre Cícero que introduziu uma política de fé, amor e trabalho, tornando-se um mito para o povo nordestino. Nas romarias, a cidade se transforma em um centro de devoção com missas, bênçãos, procissões, novenas, peregrinações e visitações, além de extraordinário mercado de artesanato regional e artigos religiosos.
Recentemente, Juazeiro comemorou a passagem de 100 anos da sua emancipação política como a terceira cidade do Ceará após deixar de ser um mero povoado pertencente ao Crato. Tudo começou durante uma missa em março de 1889 quando Padre Cícero ministrava a comunhão aos fiéis. Ao colocar a hóstia na boca da beata Maria de Araújo, esta se transformou em sangue. O fato se repetiu por diversas vezes durante cerca de dois anos, sendo logo atribuído pelos fiéis como um milagre.
Levas de católicos passaram a visitar o povoado em busca dos conselhos e da benção do 'Padim Ciço'. O vilarejo foi crescendo com a abertura de novas ruas e a construção de casas tudo no entorno da fé popular. Surgiam os pequenos negócios com melhores perspectivas e o Padre Cícero sempre aconselhando: 'em cada casa um santuário e em cada quintal uma oficina'. Os espaços sagrado e econômico se entrelaçaram com o trabalho e a fé caminhando juntos a ponto de servir como alicerce para o desenvolvimento de Juazeiro."

Juazeiro em 1911


quarta-feira, 21 de maio de 2014

ALTOS E BAIXOS


EM ALTA

A Defensoria Pública, doravante conceituada constitucionalmente como "instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal." (art. 134, caput, CF/88). 

EM BAIXA

A panfletária Revista Veja, ferramenta ideológica descarada do Império Americano e defensora fervorosa dos interesses e privilégios da nossa elite conservadora, reacionária e de mentalidade colonial.  

EM ALTA

As pessoas humildes do Brasil, que, com a aprovação da PEC Defensoria para todos, poderão contar, no prazo de 08 (oito) anos, com defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais, equilibrando-se a balança da justiça, de modo que, onde houver um juiz de direito e um promotor de justiça, haverá também um defensor público.  

EM BAIXA

A TV Revolta, mecanismo velado de apologia à extrema direita nacional, cujos ícones, reacionários e conservadores, são: a) na política, Jair Bolsonaro, sujeito homofóbico, racista, defensor da tortura e do regime militar no Brasil, dentre outros "predicados"; b) na filosofia, Olavo de Carvalho, astrólogo metido a filósofo que mora nos EUA; c) na música, Lobão (sic); d) na economia, Rodrigo Constantino, colunista da revista Veja... 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

PADRE IBIAPINA



João Antônio Pereira Ibiapina, conhecido como Padre Ibiapina, nasceu em 05 de agosto de 1806, em Sobral (CE). Foi deputado, juiz de direito e advogado, mas, aos 47 anos, decepcionado com as leis dos homens, decidiu seguir a vida religiosa. Padre Ibiapina percorreu o Nordeste em missões evangelizadoras, erguendo casas de caridade, igrejas, capelas, cemitérios, cacimbas d'água e açudes, bem como defendendo os direitos dos trabalhadores rurais e ensinando técnicas agrícolas aos sertanejos.  
Padre Ibiapina adotava práticas precursoras da opção pelos pobres feita pela Igreja Católica no Concílio Vaticano II, que deu origem à Teologia da Libertação. 
Antônio Conselheiro teve forte influência da obra missionária do Padre Ibiapina, cujas pregações acompanhou por algum tempo na região de Ipu (CE). Há quem sustente inclusive que o tratamento de "meu Pai" e o "Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo", adotados por Conselheiro e seus seguidores, foram herdados da prática do Padre Ibiapina. 
Outro que sofreu influência do estilo de vida e do modo de pregar do Padre Ibiapina foi Padre Cícero, que também foi perseguido pela Igreja pelo seu modo diferente de pregar a fé cristã.
Padre Ibiapina adquiriu fama de profeta e milagreiro e hoje é venerado como um santo do povo, especialmente pelo interior paraibano, onde foi mais atuante. Faleceu em 15 de fevereiro de 1883, no distrito de Santa Fé, atualmente localizado no município de Solânea (PB).  

Fonte: Wikipédia

quarta-feira, 14 de maio de 2014

ALONSO QUIJANO



 Neste calmo entardecer, 
Não quero ficar sozinho,
Quero vencer o moinho,
Ver o monstro fenecer.
Na peleja o benquerer
Há de suplantar a dor,
Ter asas de um condor
E sinais de esperança.
Sigo firme na andança
De humano sonhador.

Desfazedor de agravos,
Na defesa do oprimido,
Sou Quixote destemido,
Libertador de escravos.
Sigo sem vinte centavos,
Como cavaleiro errante,
No passo de Rocinante,
E Sancho de companhia.
Eu combato noite e dia;
Sou de Dulcineia amante.

Eliton Meneses

sexta-feira, 9 de maio de 2014

VIDA DE REPÚBLICA III



Cabeça havia recebido o seu cartão de crédito universitário, mas numa única tarde percorrendo os bares do Benfica esgotara todo o seu limite. Como malograra mais uma promessa financeira do perdulário veterano, para não ficarmos em casa mais uma noite de sábado, resolvemos nos achegar sorrateiramente na festa de São João das vizinhas da república feminina.
O entusiamo com que algumas delas nos receberam arrefeceu logo que descobriram que éramos colegas residentes. Cabeça já era conhecido; os novatos Gilson e eu, ainda não. Encaramos naturalmente a indiferença, até o momento em que nos convencemos de que a festa era exclusiva para os convidados com os carros estacionados.     
Como a bebida era cortesia, Cabeça preferiu ficar. Gilson e eu partimos para o forró do Sesi Parangaba, somente com o dinheiro do mototáxi e o da entrada do clube. 
– Eu sou aviador da FAB, ora! Se elas soubessem que sou um caçador...! Desabafou contrariado Gilson na saída da residência feminina.     
Gilson retornava à república depois de uma traumática reprovação por meio grau de miopia no curso de formação da aeronáutica. Mesmo fora da caserna, manteve alguns arroubos militares e a impressão de que sua patente de cadete era vitalícia.
– Relaxe, camarada! Um dia irão se arrepender de tê-lo menosprezado! Tentei conformá-lo. 
– De nos terem menosprezado! Completou Gilson. 
Fomos ao forró do Sesi, onde havia meninas simples, bonitas e solícitas. Meninas do povo, secundaristas, comerciárias, domésticas... Sabíamos que o forró do Sesi prometia, muito embora não contássemos com um único real para a cerveja.   
Quando Gilson se ofereceu a segurar a lata de cerveja da moça enquanto eu dançasse com ela uma música, pressenti algo errado. Talvez ela não tenha percebido, mas, quando tomou de volta sua cerveja, metade do conteúdo havia desaparecido...
Somente por volta da oitava música segurando e bebendo a metade da cerveja das parceiras com quem eu dançava, Gilson se deu por satisfeito e invertemos os papéis de dançarino e bebedor...
Fez bem não termos ficado na festa das vizinhas. Naquela mesma noite percebemos o abismo que há entre a gente humilde e a gente metida a besta. Tivemos uma noite fantástica com gente igual a gente. Depois do desprezo, ganhamos literalmente uma noite de diversão e Gilson, ainda de quebra, um apelido. Daí em diante seria chamado de Caçador... 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

PSICOLOGIA DE ALMANAQUE




Quem é de Coreaú, terra pródiga em apelidos, aprende desde cedo que o jeito mais indicado para inibir uma alcunha que exponha ao ridículo é encará-la com indiferença. Quando o apelido vexatório não consegue o seu propósito de desestabilizar o sujeito-alvo, acaba perdendo-se com o tempo. No entanto, se o sujeito demonstrar incômodo, poderá carregá-lo pelo resto da vida como um fardo traumatizante.  
Daniel Alves, ao descascar e comer uma banana arremessada por um torcedor espanhol, agiu com tamanha dignidade e elegância que o apelo vexatório do episódio acabou revertendo contra o preconceituoso.
Não será a atitude de um jogador de futebol ou mesmo uma campanha publicitária de gosto duvidoso deflagrada a partir dela que irá resolver o flagelo lamentável do preconceito racial, de todo modo, é digna de todos os aplausos a resposta simbólica do lateral brasileiro, porque, no plano individual, não há mesmo melhor resposta para uma investida vexatória do que menosprezá-la com parcimônia e altivez.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL


Prevalece ainda quase como dogma no nosso Direito Civil o princípio da intangibilidade contratual, traduzido no vetusto brocardo latino pacta sunt servanda (os acordos devem ser cumpridos) e excepcionado muito raramente pela teoria da imprevisão (cláusula rebus sic stantibus). 
Nos contratos de financiamento de veículo, é comum, diante do não-pagamento de algumas parcelas, a instituição financeira pedir a busca e apreensão do veículo, com base no art. 3.º do Decreto-lei 911/69 c/c art. 475 do Código Civil.  
Numa visão hermética do pacta sunt servanda, mesmo que o contrato estivesse na reta final do pagamento das prestações, o devedor ainda assim estaria sujeito a perder liminarmente o veículo na ação de busca e apreensão, dificilmente recuperando os valores já pagos. 
No entanto, numa salutar evolução jurisprudencial, o Superior Tribunal de Justiça adotou recentemente a teoria do substancial adimplemento, não autorizando a resolução do contrato e a reintegração de posse do veículo, num caso em mais de 80% das prestações já estavam pagas. Ora, com olhos postos nos princípios da boa-fé e da função social do contrato, não faz sentido a resolução de um contato cujas prestações já estão substancialmente pagas (mais de 80%), sendo preferível deveras manter o veículo na posse do devedor e indicar ao agente financeiro a via da execução do título extrajudicial (contrato) para a cobrança do seu crédito remanescente, sem a comodidade da busca e apreensão liminar (STJ, REsp 1051270/RS, 4.ª Turma, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 05.09.2011).
Tal orientação, sensível à parte vulnerável no arrendamento mercantil (leasing) – aplicável também à alienação fiduciária –, merece aplausos por fazer justiça mesmo contra a literalidade obtusa da lei. 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

DIA DO TRABALHADOR



Para homenagear os trabalhadores que morreram na luta por melhores condições de trabalho, a Segunda Internacional Socialista, ocorrida em Paris, em 20 de junho de 1889, instituiu o Dia Mundial do Trabalho, comemorado no 1.º de maio de cada ano em vários países do mundo.  
No 1.º de maio de 1886, nos Estados Unidos, milhares de trabalhadores foram às ruas, numa greve geral, para reivindicar melhores condições de trabalho, dentre elas a redução da jornada de treze para oito horas diárias. Na cidade de Chicago, dois dias depois, um conflito envolvendo policiais e trabalhadores resultou na morte de alguns manifestantes. No dia 4 de maio, num enfrentamento, alguns manifestantes arremessaram uma bomba nos policiais, causando a morte de setes deles; em resposta, os policiais dispararam suas armas contra o grupo de manifestantes, matando doze e ferindo dezenas de outros trabalhadores. 
Proletarier aller Länder, vereinigt euch! 
Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos! 
A luta continua!