quarta-feira, 30 de abril de 2014

SELF TV




Assim como a usina engoliu o engenho de cana, a televisão tende a ser engolida pela internet. No Youtube, há filmes, documentários, cursos, jogos, notícias, enfim, vídeos (antigos e recentes) de tudo o que se possa imaginar. Com a possibilidade de cada um elaborar sua programação, cada vez mais faz menos sentido quedar passivo diante da programação unilateral de uma emissora de televisão.  

terça-feira, 29 de abril de 2014

segunda-feira, 28 de abril de 2014

À ANTIGA BARRAGEM



Barragem antiga,
Divisa da Palma,
Abarca na alma
Do povo de cá
A boa lembrança
Dos banhos de rio,
Do belo assobio
Da ave a cantar!
Enorme saudade
Tu causas no peito
De quem viu no leito
Fartura reinar
E hoje observa
O lixo boiando,
Esgoto jorrando,
Onde era lugar
Dos mais prediletos
E de verde vivo.
Tornou-se cativo
Em seu próprio lar!

Benedito Gomes Rodrigues

sexta-feira, 25 de abril de 2014

VÁRZEA DA VOLTA



Quem avista o açude Várzea da Volta quase seco, depois de quatro anos seguidos de estiagem, talvez custe a acreditar na grandeza normal desse que é um dos mais antigos açudes do Brasil. 
Grande em água e em história. Zé Canoa, pescador experiente da Volta, quase todo mês perdia duas redes de pesca para gatunos que agiam nas madrugadas de lua nova. Zé, absolutamente mouco, não era páreo para os larápios atrevidos. Sentado na beira d'água, vigiava toda a noite suas redes armadas, com olhos alertas ao menor movimento. Normalmente, sua presença inibia, mesmo na penumbra, a aproximação dos amigos do alheio. Nas noites escuras, porém, a surdez não lhe permitia flagrar a rapinagem, mesmo aquelas ocorridas a poucos palmos do seu nariz. 
– Se o troço desses ouvidos prestassem, seria diferente! Pensava consigo.
Certo dia, teve uma ideia genial. Na noite escura, armou suas travessas, sentou-se na beira d'água, escorado num grande caçuá, e, erguendo um pouco a cabeça, gritou a plenos pulmões:    
– Ei, rapaz! 
Não havia vivalma por perto. E mesmo que houvesse, Zé não conseguiria avistá-la no enorme breu. Não podendo contar nem com a visão, nem com a audição na defesa do seu patrimônio, Zé optou por um grito de alerta preventivo, que repetida a cada quarto de hora. 
– Ei, rapaz!
O plano saiu inicialmente como o esperado. Sempre que um pescador desonesto se aproximava com más intenções das redes do Zé, batia em retirada ao ouvi-lo gritar:
– Ei, rapaz!
Durante quase um ano, Zé Canoa não teve uma única rede furtada. Depois, começou a dar pela falta de uma rede num mês, duas noutro, até que a roubalheira voltou praticamente à situação anterior ao plano genial. Os gatunos perceberam que os gritos do Zé eram mera trapaça e, nas noites escuras, voltaram a subtrair-lhe as redes, zombando até do seu ecoar inútil.  
O grito de Zé Canoa caiu em tal descrédito que, em certa noite, Chico Noca ensacava despreocupado uma rede dele numa distância bastante próxima à beira do açude. Zé gritou pela quarta vez na noite:
– Ei, rapaz!
Até então não havia dado pela presença do larápio. Com pouco, divisou uma silhueta humana. Esperou ela se aproximar ainda mais e, quanto se convenceu de que estava sendo vítima de mais um furto, gritou:
– Ei, rapaz!
A silhueta não se intimidou e, confiante no blefe do surdo, continuou se aproximando mais e mais da beira d'água, até que Zé avistou o sujeito na penumbra quase cara-a-cara e soltou um último grito enfurecido: 
– Ei, rapaz! Ei, Chico Noca! Deixa de ser ladrão, cabra sem-vergonha! 

terça-feira, 22 de abril de 2014

FUGA AGALOPADA



Longa estrada seguia a sua verve,
Mas sentiu despertar de outra sina,
Pois pra fora da casa há u'a esquina
Cuja curva conduz ao que lhe serve.
Lamparina d'outrora que ora enerve
Seu luzir no compasso d'outra dança
Não refaz mesmo claro d'esperança,
Que se nega a ficar acabrunhada.
A bandeira da glória conquistada
Não apaga da mente essa lembrança.

A cadência da fuga apetecida
Não reflore a sabença original,
Meramente tem cheiro matinal
Esgotando a moléstia renascida,
Que fascina a demência incontida
Dos refolhos secretos do nirvana;
No deitar do regaço da choupana,
Descobriu ser ainda escravizado;
Pobre alma do povo humilhado,
Que caminha na chuva da savana.

Eliton Meneses

segunda-feira, 21 de abril de 2014

ALTOS E BAIXOS - COREAÚ


EM ALTA


Os reencontros que a Semana Santa em Coreaú proporciona. Não tem preço o caminhar pelas ruas da velha Palma. Não tem preço a rede e o carinho da casa de mãe. Não tem preço a conversa com velhos amigos, a aprendizagem com o poeta-mor da terra, o almoço na casa de um sábio camarada. Sob o céu invernoso coreauense, não tem preço nem mesmo aquele aceno discreto para o conhecido de vista.   

EM BAIXA


O rio Coreaú, cujas águas, em pleno abril, escorrem timidamente em meio à folhagem que lhe invadiu o leito. Foi-se a época em que uma antiga barragem represava água para manter vivo o ecossistema do rio até o inverno seguinte. A pouca água que agora corre segue toda livre para o mar.       

EM ALTA 


A encenação da Paixão de Cristo por jovens do Araquém. Algo aparentemente singelo, mas de um marcante simbolismo. Numa era de agonia cultural, à míngua de recurso e de incentivo, a tradição resiste na base da coragem e da criatividade. 


EM BAIXA

O contraste entre a sonora radiadora da igreja e o silêncio da língua dos fiéis... "Pai, afasta de mim esse cálice!"

segunda-feira, 14 de abril de 2014

DEFENSORIA PÚBLICA AUTÔNOMA



A Emenda Constitucional n.º 45, de 30 de dezembro de 2004, alterou a Constituição Federal para assegurar às Defensorias Públicas estaduais a autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária, observados os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, determinando ainda que os recursos correspondentes às dotações orçamentárias destinados à instituição ser-lhe-ão entregues até o dia 20 de cada mês, na forma de duodécimos.    
Com o advento da EC nº 45/2004, a Constituição Federal conferiu um novo perfil institucional à Defensoria Pública, reconhecendo-a como instituição autônoma, administrativa, funcional e financeiramente, à semelhança do Ministério Público. A autonomia significa, basicamente, a independência em relação ao Poder Executivo – e também em relação aos demais Poderes –, implicando a prerrogativa de tomar decisões sem ingerências externas e de gerir seus próprios recursos.  
No entanto, a partir da EC n.º 45/2004, coube a cada Estado adaptar sua legislação interna para que a autonomia de cada Defensoria Pública pudesse operar na prática. No Ceará, depois de quase dez anos, e muitas lutas da categoria, finalmente veio a lume a Emenda à Constituição Estadual reconhecendo a autonomia da Defensoria Pública local. 
A Emenda Constitucional n.º 80, promulgada em 14 de abril de 2014, assegurou à Defensoria Pública do Estado do Ceará a autonomia administrativa, funcional e financeira, atribuindo-lhe a prerrogativa de: a) praticar atos próprios de gestão; b) decidir sobre situação funcional e administrativa de seus membros e do serviço auxiliar ativo, organizado em quadro próprio; c) apresentar sua proposta orçamentária; d) propor privativamente ao Poder Legislativo a criação e a extinção de seus cargos da carreira e dos serviços auxiliares, bem como a fixação, revisão e reajuste dos subsídios de seus membros e dos vencimentos de seus servidores; e) propor ao Poder Legislativo a criação e a alteração da legislação de interesse institucional; f) expedir atos de provimento dos cargos da carreira e dos serviços auxiliares, como nomeação, promoção, remoção, etc.; g) editar atos de aposentadoria, exoneração, demissão e outros que importem em vacância de cargos da carreira e dos serviços auxiliares, bem como os de disponibilidade de seus membros e de seus servidores auxiliares e h) exercer outras competências decorrentes de sua autonomia, na forma da lei. 
Espera-se que, com o reconhecimento de sua autonomia, a Defensoria Pública se fortaleça cada vez mais, efetivando sua missão constitucional de garantir o acesso à justiça da população necessitada do Estado do Ceará.  

sexta-feira, 11 de abril de 2014

DEMOCRACIA GREGA



A democracia grega era uma forma de governo, baseada na liberdade, que visava assegurar aos cidadãos a isonomia, a isotimia e a isagoria.  
A isonomia era a igualdade dos cidadãos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. A ordem jurídica deveria, portanto, conferir-lhes o mesmo tratamento, ou seja, iguais direitos e punições sem privilégios.
A isotimia assegurava a todos os cidadãos o livre acesso ao exercício das funções públicas, pautado-se no merecimento, na honra e na confiança e abolindo-se os títulos e as funções hereditárias. 
A isagoria era o direito de todo cidadão de manifestar sua opinião nas assembleias populares (Ágora). É o que modernamente se compreende como liberdade de expressão e de imprensa.
A estranha nódoa da democracia grega é que os cidadãos eram somente os homens livres, nascidos em Atenas e de pais atenienses. As mulheres, os escravos e os estrangeiros não eram considerados cidadãos... No final das contas, os cidadãos representavam tão somente 10% da população da cidade, podendo-se dizer que não se tratava verdadeiramente de uma democracia, mas de uma paradoxal aristocracia democrática.
Tirante esse incômodo aspecto, a experiência histórica da democracia grega, retratada na reunião diária dos cidadãos em praça pública para debater e deliberar, direta e imediatamente, por maioria de votos, todas as grandes questões da pólis, foi talvez a maior lição que a Grécia legou à posteridade.    

segunda-feira, 7 de abril de 2014

HAICAIS

HAICAIS DE ENTRADA                                      HAICAIS DE SAÍDA
           
              i.                                                                                   i.
Faça-se um rumo                                                    No solo sem humo
Baseado na coragem                                              Colorem a estiagem
De perder o prumo.                                                Flores de mofumo.
             ii.                                                                                   ii.
Lágrima secou                                                         O galo cantou
E o olhar já tão perdido                                        E o peito já partido
Diz-me quem amou.                                              Não acreditou.
             iii.                                                                                 iii.
Eis a corrigenda                                                      Ó pobre fazenda
Do erro que sei brotou                                           A chuva que despertou
Jogue-o à moenda.                                                 Fora mera lenda.
             iv.                                                                                  iv.
Folhas e quintais                                                     Corvos nos umbrais
E o vento que espalha                                            Atiçam fogo de palha
Toda minha paz.                                                     De rusgas banais.
              v.                                                                                   v.
Tão pobre é a rima                                                  Tão duro é o clima
Que disfarça a mordaça                                         Que sem água na cabaça
À dor que a aproxima.                                            Não há obra-prima.
               vi.                                                                                 vi.
Que seja meu grito                                                  Proceder sem rito
O louvor a ti, ó terra!                                              Renhida luta sem guerra
De real a mito...                                                       Luz de mesmo fito!

Benedito Gomes Rodrigues                                   Francisco Eliton Meneses

sábado, 5 de abril de 2014

INVERNO



Um raio na noite escura
Alumia a linha da serra;
A chuva escorre na terra;
O inverno espraia fartura.

No vale renasce a verdura;
O drama da seca encerra.
No quintal o cabrito berra,
Do mato recende ventura.

O sertão de chofre recria:
O sapo cantor da ribeira;
Borboleta a voar no oitão. 

Na roça campeia euforia;
Tem legume na capoeira;
No chiqueiro, gordo leitão.

Eliton Meneses