quinta-feira, 30 de outubro de 2014

REFÚGIO


Percorreu a rua do Peão no silêncio do meio-dia, fez a curva no oitão da Maria Preta, evitando o monturo vizinho e alcançou, depois de alguns passos, a água fresca do rio. Sentou-se na beira, avistou à distância duas lavadeiras nas pedras e mais perto um menino pescando piaba com uma garrafa furada. 
Molhou os pés e o rosto, ergueu-se novamente e resolveu atravessar o rio. Não precisou nadar. A água não lhe chegou a cobrir os ombros. Na estreita praia de areia formada do outro lado, contemplou a cidade sob uma perspectiva diferente. As cercas dos quintais à esquerda, as moitas copiosas que acompanhavam o leito até o campo Beira-rio e um extenso cercado que dava nas ruínas da Ponte Velha. 
Esgueirou-se na curva da vazante e seguiu no estreito caminho ainda não submerso até alcançar o imponente juazeiro. Sentou sob a sombra da árvore, provou dois juás maduros, apreciando a silhueta distante da Meruoca e, depois de um salto da ribanceira para um mergulho no rio, embrenhou pelo caminho da Raposa, quase todo coberto pelo mato que crescia no inverno. 
Passou pelo primeiro cajueiro, deteve-se um pouco no segundo, sentado num galho para ouvir um sabiá que cantava próximo, e seguiu adiante, espiando o legume que crescia vigoroso em cada cercado, embalado pelo aboio distante do vaqueiro e pelo mugido de esperança de uma rês...   

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